Texto: Paulo Mata
Artigo publicado no jornal Take-Off de Set.2012
No programa estava previsto que o início fosse a partir das 10h30, com a largada de pára-quedistas, seguido de uma formação de Su-25 com fumos das cores branco, azul e vermelho, a pintar uma imensa bandeira russa nos céus de Moscovo. Com a formação "100 anos", criada por cinco Su-27, oito Mig-29 e oito Su-25, a formar um "100" dá-se realmente início às actividades aéreas. Até às 13h00 é um imenso desfilar de aeronaves históricas, tanto de fabrico local: Yak-3, Yak-9, Yak-11 e o lendário Polikarpov I-15bis; como ocidental: Bleriot XI, Fokker Dr.1, Tummelisa FVM, F4U Corsair, TBM Avenger, T-6 Texan, Hurricane, P-40 Kittyhawk, P-51 Mustang, B-25 Mitchell e C-47 Dakota.
De Iália vieram os Frecce Triccolori em MB-339, numa exibição atípica, sem o seu avião-solo, tal como os "Red Arrows" da Grã-Bretanha, apenas com seis dos nove Hawk T1 com que se exibem normalmente. Os "Midnight Hawks" finlandeses também em Hawk Mk.51, a patrulha polaca "Iskra" em Ts-11 e os "Baltic Bees" em L-39 foram as restantes patrulhas estrangeiras a exibir-se durante a tarde, intercaladas por diversos desfiles de verdadeiros gigantes dos ares, a solo ou em formação, como os Antonov An-2 (maior biplano do mundo), An-26 (maior avião a hélice do mundo), An-124, Tupolev Tu-22, Tu-95, Tu-160, Ilyushin Il-76, Il-80, Beriev A-50, alguns dos quais classificados e valorizados pela comunidade spotter presente como "aves exóticas" de primeiro grau.
Em números totais, até ao fim do ano de 2012 serão entregues 180 novas aeronaves, um número que em 2020 se deve situar nos 600 aviões de combate e 1000 helicópteros, num investimento avaliado em 510 mil milhões de euros.
Artigo publicado no jornal Take-Off de Set.2012
FORÇA AÉREA RUSSA COMEMORA 100 ANOS AO RUBRO
Sigo no banco de trás de um táxi, algures em Zhukovsky, subúrbio moscovita onde se realizou o festival comemorativo do centenário da Força Aérea Russa. Conseguir o táxi foi um golpe de sorte, enquanto aguardava por um dos imensos autocarros bloqueados no caótico trânsito da capital do maior país do mundo. Estranhamente, a música que se ouve no rádio é cantada em português. Funk brasileiro, numa rádio que se pode ver no RDS, chama-se "NRJ", e está escrito em alfabeto latino. "Isto já não é o que era..." diz o nosso condutor. Concordei.
"A vida são dois dias e o Carnaval são três" não era o título da música, mas bem podia ser. Três foram também os dias em que o aeródromo de Zhukovsky se transformou na Meca de todo o aficionado - spotter, entusiasta, jornalista, ou profissional da aviação - e contou com um cartaz de "fazer crescer água na boca" a todos os que se interessam pelo fascinante mundo das máquinas voadoras, desde o mais distraído, ao apreciador mais requintado.
Na verdade, de alguns anos para cá, e face à crescente globalização que vem atingindo também o mundo da aviação, a Rússia tem vindo a tornar-se numa espécie de reserva natural para espécimes raros. Não é admiração, por isso, o entusiasmo despertado pelo evento, até porque desde que se aterra no aeroporto internacional, em Domodedovo, até ao momento em que se sai, é sempre a registar "cromos raros". Uma oportunidade destas, de conseguir encontrar num único local tantos alvos apetecíveis, não era, por isso, de desperdiçar.
Dos três dias de comemorações, apenas dois foram dedicados ao público (10 e 12 de Agosto), sendo o primeiro uma espécie de ensaio geral para Domingo, 12 de Agosto de 2012, a data em que de facto se completaram os 100 anos da criação da Força Aérea Russa.
Durante esse século, inúmeras batalhas aéreas foram travadas, e o país sofreu revoluções, invasões e mudanças de nome e de regime político. A sua Força Aérea foi, contudo, sempre um marco de orgulho nacional, um dos pesos a medir diariamente durante a Guerra Fria, e produziu heróis à escala estratosférica, tal como Iuri Gagarin, o primeiro homem a voar na órbita da Terra.
Entrar na Base Aérea de Zhukovsky é, só por si, uma experiência marcante, pelo simples avistar, quase em cada recanto, de aeronaves conservadas para museu ou simplesmente abandonadas, que marcaram épocas e feitos no seu tempo. Ao longe consegue-se distinguir o estabilizador vertical do Buran (vaivém espacial russo equivalente ao space shuttle americano), ao mesmo tempo que do lado direito vemos um Tu-144 (equivalente ao Concorde europeu), e se tomarmos atenção aos caças do nosso lado esquerdo, identificamos dois Su-15 (o modelo que abateu o Boeing 747 das Korean Airlines em 1983), entre muitos outros, alguns difíceis de catalogar com o simples recurso à memória. Passada uma última barreira de segurança à entrada consegue-se ver finalmente o espaço reservado ao público e à exposição estática, apinhada de uma multidão, que viria a ser de mais de 200 mil almas.
Mil Mi-26 na exposição estática |
No programa estava previsto que o início fosse a partir das 10h30, com a largada de pára-quedistas, seguido de uma formação de Su-25 com fumos das cores branco, azul e vermelho, a pintar uma imensa bandeira russa nos céus de Moscovo. Com a formação "100 anos", criada por cinco Su-27, oito Mig-29 e oito Su-25, a formar um "100" dá-se realmente início às actividades aéreas. Até às 13h00 é um imenso desfilar de aeronaves históricas, tanto de fabrico local: Yak-3, Yak-9, Yak-11 e o lendário Polikarpov I-15bis; como ocidental: Bleriot XI, Fokker Dr.1, Tummelisa FVM, F4U Corsair, TBM Avenger, T-6 Texan, Hurricane, P-40 Kittyhawk, P-51 Mustang, B-25 Mitchell e C-47 Dakota.
Para iniciar a era moderna, e pela hora de almoço, estava reservado o prato forte do dia, com a exibição da actual coqueluche russa, o Su-35.
Preparado na cozinha (leia-se fábrica) da Sukhoi, e servido por um dos melhores chefs (leia-se piloto) da actualidade, deliciou todos com manobras que impressionaram leigos e conhecedores. Da demo do Su-35, apoiada nas fantásticas capacidades aerodinâmicas do aparelho, só se pode dizer que só vendo mesmo ao vivo, sob pena de se pecar por defeito em adjectivos que a caracterizem, porque nem as imagens em vídeo permitem obter uma ideia clara do que realmente é.
Sukhoi Su-35 |
Preparado na cozinha (leia-se fábrica) da Sukhoi, e servido por um dos melhores chefs (leia-se piloto) da actualidade, deliciou todos com manobras que impressionaram leigos e conhecedores. Da demo do Su-35, apoiada nas fantásticas capacidades aerodinâmicas do aparelho, só se pode dizer que só vendo mesmo ao vivo, sob pena de se pecar por defeito em adjectivos que a caracterizem, porque nem as imagens em vídeo permitem obter uma ideia clara do que realmente é.
O espectáculo seguiu com as primeiras patrulhas acrobáticas da casa, primeiro a "Rusky" com cinco L-39, e depois pelos "Golden Eagle" com seis helicópteros Mi-28.
Red Arrows britânicos |
Midnight Hawks finlandeses |
Beriev A-50 |
Ilyushin Il-80 |
Entre números menores e aeronaves menos importantes desfilaram ainda sobre o aeródromo formações mistas e puras das aeronaves que formam a espinha dorsal de caça-bombardeiros russos operacionais, constituída actualmente por Su-24, Su-25, Su-27, Su-34, Mig-29 e Mig-31.
Como o festival não deixou de ser uma montra para as aeronaves de produção russa, o evento foi aproveitado para exibir o novíssimo Yakovlev Yak-130, que compete no mercado internacional com os aviões de treino a reacção de última geração, como os Aermacchi MB-346 ou os T-50 da Lockheed/KAI. De entre os helicópteros de fabrico local com mercado por todo o mundo, desfilaram o gigantesco Mil Mi-26, os utilitários Mi-8, Ansat U-35 e os modelos armados Kamov Ka-52 e Mil Mi-35.
Kamov Ka-52 |
Yakovlev Yak-130 |
Efectuaram ainda exibições um Rafale francês a solo, um Su-34, e vários Mig-29 e Su-27 em simulação de dogfights de belo efeito.
Apesar de ter tido uma aparição com pouco protagonismo, destaque ainda para um protótipo Sukhoi T-50, o primeiro caça de 5ª geração do país dos czares, ainda em fase de desenvolvimento.
Quase mesmo a terminar, as duas patrulhas mais marcantes a envergar as cores russas, os "Russian Knights" e os "Swift", exibiram-se tanto em separado como em formação conjunta de Su-27 e Mig-29, e abrilhantaram o espectáculo (literalmente) com várias largadas de flares, sempre muito saudadas pelo público e fotógrafos, à semelhança, aliás, do que já havia sucedido durante as demos de alguns dos Mig-29 e Su-27.
Sukhoi T-50 |
Depois de uma tarde sem qualquer paragem entre os números previstos, pelas 18h30 desce finalmente o pano sobre as festividades, tal como começou: com a formação dos 100 anos e os Su-25 com fumos que fecharam o dia com as cores nacionais.
O leitor mais atento terá porventura já notado a omissão ao dia de Sábado, 11 de Agosto, um dos três dias de comemorações, mas que ficou reservado às altas individualidades políticas e militares. Por coincidência, acabaria por ser o pior dia meteorológico, que impediu mesmo a maior parte dos desfiles aéreos previstos, pelo que o pouco público que se aventurou nas imediações da base, na esperança de ver alguma coisa, acabou por dar o seu tempo por desperdiçado.
Esta opinião não terá com certeza sido partilhada pelos generais da Força Aérea Russa, já que Vladimir Putin, apesar de ter estado no local por pouco mais de uma hora, teve ainda assim tempo para anunciar consideráveis investimentos na arma aérea do país, de modo a devolver-lhe a credibilidade e respeito de outros tempos.
Assim, e para além dos programas de modernização (equivalente ao Mid-Life Upgrade ocidental) das plataformas actualmente operacionais, que permitirão trazer para o século XXI com real valor militar os Mig-29, Su-27, Su-25, Tu-22, Tu-95 e Tu-160, os novos Su-34 substituirão os desactualizados Su-24. Uma encomenda de 34 Su-30, até agora só vendido para exportação, e 100 Su-35, um avião de geração 4++, servirão de transição até à entrada em serviço do T-50 (já de 5ª geração), espera-se que algures no final da década.
Sukhoi Su-34 |
De volta ao táxi, que divido com alguns companheiros de jornada, o condutor queixa-se de alguma desorganização que reinou relativamente aos acessos à base, a par com decisões infelizes, como a necessidade de levantar os bilhetes antecipadamente no centro da cidade. Concordámos outra vez. Ao que parece, nos anos da feira MAKS não tem sido nada disto. As recentes medidas de segurança implementadas por Putin complicaram as coisas.
Para terminar, o condutor do táxi revela ainda ter sido navegador de Ilyushin Il-76 numa transportadora encerrada há já alguns anos. Fez inúmeras entregas de carga no Afeganistão e aterragens em África, de que vai contando pormenores com que tempera as suas histórias, e que nos permitem perceber que só quem de facto as viveu os poderia saber. Apesar do trânsito a esta hora, do festival ninguém sai desiludido. Os generais russos vão ter aviões novos e o público teve um espectáculo para recordar por longos anos.
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