EXERCÍCIO BRILLIANT ARROW

Texto: Paulo Mata
Artigo publicado no jornal Take-Off de agosto de 2013

Mirage 2000D francês com a torre de controlo de Ørland em fundo

O dia 24  de Agosto de 2013 começou cedo na Base Aérea nº5 em Monte Real. Chegámos às 5 da manhã e já na placa de estacionamento Bravo 1 se começam a juntar os elementos destacados para o exercício Brilliant Arrow na Noruega, com vista a seguir no C-130H Hercules parado em frente ao hangar. Já no dia anterior tinham seguido para Ørland os cinco F-16AM da Cruz de Cristo a empregar no exercício e dois dias antes, noutro C-130 da Esquadra 501 foram transportados os primeiros equipamentos e pessoal, maioritariamente relacionados com a logística, de modo a preparar a chegada e operação dos meios seguintes.
À nossa frente, uma viagem de cerca de seis horas, que nos havia de levar até ao palco de um dos mais importantes exercícios da NATO da actualidade.

As bandeiras dos países NATO à entrada da base aérea de Ørland. Podem ainda distinguir-se F-84, F-5 e F-86 em pedestais, para além de uma "bateria" de mísseis terra-ar Hawk

As forças de reacção rápida da NATO foram criadas em 2003 e integram cerca de 25.000 homens dos três ramos das Forças Armadas. Foram criadas de modo a adaptar a NATO às novas realidades, capazes de fazer face a cenários de guerra, catástrofes naturais, terrorismo ou evacuações, em que se exige maior agilidade, de uma força de menor escala, em detrimento das forças massivas herdadas dos tempos da Guerra Fria, preparadas para a chamada “guerra clássica”. A NRF tem por objectivo intervir numa perspectiva de “primeira a entrar e primeira a sair”, sendo por isso essencial a prontidão e a flexibilidade de actuação, que lhe devem permitir operar em qualquer parte do globo em menos de 10 dias, mantendo-se até 30 dias sem reabastecimentos, período após o qual se admite ser reabastecida ou substituída por outras forças entretanto reunidas.
A Força de Resposta da NATO (NRF) é uma força formada por meios atribuídos por vários dos países integrantes da Aliança Atlântica, que está permanentemente em estado de prontidão, de modo a ser destacada quando e para onde seja necessária. Do ponto de vista aéreo, Portugal disponibilizou seis F-16 das Esquadras 201 e 301 para estarem às ordens do Comando Aéreo Aliado centralizado em Ramstein, Alemanha, dentro desta perspectiva.

O F-16AM n/c15106 em frente a um dos abrigos de Ørland
Partindo de diferentes países, e portanto com diferentes organizações e modos de operação, estas forças têm que saber operar em conjunto, em ambientes exigentes, fora das suas bases de origem e num curto espaço de tempo. Para tal, os procedimentos estão devidamente definidos pela NATO, mas para testar que assim acontece de facto no terreno, vários exercícios são ciclicamente levados a cabo. O Brilliant Arrow é assim o exercício de 2013 direccionado aos meios aéreos atribuídos à NRF, que servirá simultaneamente para avaliar o estado de prontidão desses mesmos meios, bem como a sua capacidade para agirem integradamente.
Essa avaliação começa logo na logística envolvida em fazer operar as aeronaves de combate numa base distante, portanto na capacidade organizativa, e na capacidade de transporte, assegurado maioritariamente pelos C-130 e C-160 dos vários países. 

O contingente nacional à partida da BA5 com os primeiros alvores da aurora
O cockpit do C-130 dos Bisontes que projetou as forças nacionais até à Noruega

As longas horas de viagem a bordo da cabine do C-130 da Esquadra 501

Depois, aeronaves das forças aéreas da Noruega, Turquia, Grécia, Polónia, Alemanha, França, Reino Unido e Portugal, têm que desempenhar todas as funções de combate previstas para a NRF. Os F-16, Mirage 2000, Tornado, E-3 Sentry, Falcon DA20 e Bell 412 deverão então formar uma única e sólida força. Itália e Países Baixos, apesar de participarem no exercício, não destacaram meios aéreos.
No total, cerca de 50 aeronaves e 800 militares estiveram envolvidos, no exercício Brilliant Arrow. O treino em exercícios de grande envergadura como é o caso, tem-se tornado cada vez mais raro e por isso valioso, como nos comenta o Cor. Frank Gerards, director do exercício: “devido às restrições orçamentais em quase todos os países da NATO, é cada vez mais difícil realizar exercícios de grandes dimensões a nível nacional, pelo que o Brilliant Arrow é uma oportunidade valiosa para que múltiplas nações o possam fazer”. Acerca do porquê da escolha da Noruega para a realização do Brilliant Arrow, o Cor. Frank Gerards respondeu ser (Ørland) “uma boa Base, optimizada para grandes exercícios, não apenas ao nível das infra-estruturas que oferece, mas também de espaço aéreo livre, que nos permite treinar quase sem restrições”. Uma vez que em Portugal existem também muitas dessas condições, perguntámos acerca da possibilidade da realização deste exercício em território lusitano em futuras ocasiões, ao que o director do Brilliant Arrow respondeu: “Portugal  já organizou outros grandes exercícios anteriormente,  pelo que (havendo interesse do país) a oferta deverá ser  apresentada pelos canais adequados, disponibilizando as facilidades necessárias para tal”.
 
Derivas de F-16C polaco e gregos
Tornado alemão

E-3 Sentry da NATO
Bell 414 norueguês
Já o Maj. João Rosa, Chefe do Destacamento nacional, realçou o facto de excepcionalmente durante 2014, as forças atribuídas à NRF (incluindo as portuguesas) estarem de prontidão a 10 e não a 30 dias, como normalmente sucede, e também durante um ano, quando o normal são apenas 6 meses, o que vai significar um esforço significativo por parte de todos envolvidos, para cumprir com os níveis de prontidão. Terminando a reportagem, o Maj. João Rosa fez questão de terminar a conversa realçando o empenhamento dos homens e mulheres, que servindo numa pequena Força Aérea como é a portuguesa, mantêm níveis de exigência e prontidão compatíveis com os elevados standards da NATO. “O sentimento patriótico e de dever cumprido que as motiva, é a única coisa que permite manter a prontidão em ambientes tecnologicamente muito avançados e exigentes do ponto de vista físico e mental” concluiu.  

O Maj João Rosa Comandante da Esq.201 e Chefe do Destacamento português em Ørland

Dos dos cinco F-16AM portugueses destacados
Até ao fim do ano, mais exercícios serão levados a cabo, nomeadamente por parte da Marinhas e Exércitos, culminando no grande exercício conjunto Steadfast Jazz 2013, envolvendo os três ramos das Forças Armadas atribuídos às Forças de Respostas da NATO, a realizar em Novembro na Polónia e repúblicas bálticas.
Estes exercícios, além de proporcionarem o treino que permite garantir a coesão de uma força de resposta rápida multinacional, transmitem ao mesmo tempo uma imagem de prontidão, que funciona como elemento dissuasor a possíveis ameaças do exterior da NATO.

Um dos F-16AM portugueses à descolagem em Ørland
Um F-16AM norueguês


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