JOINT WARRIOR 15-1 - A Marinha Portuguesa nos mares do Norte

Texto: Paulo Mata
Artigo publicado no jornal Take-Off de Março de 2015

Typhoons FGR4 alinhados junto à torre de controlo de Lossiemouth, Escócia
Escócia: terra de clima agreste, talhada por duros guerreiros ao longo dos séculos. O mais conhecido de todos, porventura William Wallace, (imortalizado no galardoado filme de 1995 “Braveheart”) que conseguiu unir vários exércitos numa única força conjunta. Não é de estranhar por isso que o maior exercício militar realizado na região, tenha por nome Joint Warrior. Sendo “Joint” referente à natureza conjunta do exercício,  englobando as forças aéreas, navais e terrestres.

Eurofighter Typhoon FGR4
De periodicidade semestral, o Joint Warrior, tornou-se no maior exercício táctico europeu. Prova disso foram os 55 navios de superfície e submarinos que reuniu na sua primeira edição de 2015 (15-1), entre 13 e 24 de Abril. Entre eles, pela primeira vez desde 2008, uma participação portuguesa, com a fragata NRP Álvares Cabral e o Lynx Mk.95 do destacamento “Hooters” da Esquadrilha de Helicópteros da Marinha (EHM).


A guerra no ar
Parelha de Tornado GR4 da Esquadra XV (R) regressa a Lossiemouth
 Apesar de ser um exercício de organização da Marinha do Reino Unido (Royal Navy), o Joint Warrior é um exercício destinado a treinar os três vectores de força militar: terra, mar e ar.
Edições anteriores contam com uma extensa lista de esquadras aéreas e aeronaves  participantes, tanto internas, como externas, com especial assiduidade para as francesas, americanas e canadianas. 

Typhoon FGR4 à partida para um missão nocturna
Na versão 15-1 contudo, o esforço de Guerra no Médio Oriente, limitou a presença de caças, praticamente aos Typhoon e Tornado da RAF (lançados a partir de Lossiemouth) e aos Hawk da Royal Navy (a partir de Prestwick) e F-16 turcos ( desde Leeming) na função de agressores.

CP-140 Aurora canadiano, um P-3C da US Navy e Marinha alemã

Mesmo as aeronaves de patrulhamento marítimo (MPA) normalmente bastante numerosas, ficaram este ano reduzidas a cinco unidades, embora bastante diversificadas, incluindo um P-8A Poseidon (EUA) dois P-3C (EUA e Alemanha), um CP-140 Aurora (Canadá) e um Atlantique II. A sua actividade foi ainda assim bastante intensa e com as missões a durarem entre as cinco e as nove horas cada, revezando-se nos céus.
Aeronaves de transporte actuaram a partir de Marham e os reabastecedores desde Brize Norton.



A guerra no mar

Posto de observação do Atlantique francês

Os 55 vasos de guerra que integraram o exercício 15-1, tornam-no o maior de sempre até à data. Simulando duas forças navais em conflito, sendo a agressora representada pelo Standing NATO Maritime Group 2 (SNMG2), actuando contra uma força liderada pela Royal Navy, sob a égide da NATO.

Um CP-140 Aurora canadiano, presença habitual nos exercícios Joint Warrior
Se houve lições retiradas da II Guerra Mundial, a de que os meios aéreos são essenciais para vencer no mar, é inevitavelmente uma delas. Por essa razão, quer os MPAs de asa fixa com base em terra, actualmente com capacidade de comunicação em rede com os meios navais, quer as aeronaves de asa rotativa transportadas pelos próprios navios (Sea King, S-70B, Lynx, MH-60, SH-60, Merlin, entre outros vários outros modelos), foram os olhos e os vectores de projecção de força rápida, como se exige a uma moderna força naval.

Atlantique da Marinha Francesa regressa a Lossimouth após 6 horas de patrulhamento

A Guerra em terra

Sikorsky HH-60G Pave Hawk da USAF
Tal como a guerra aérea, as operações terrestres foram este ano secundarizadas pela magnitude das marítimas. Ainda assim, diariamente foram conduzidas operações de resgate em zona de combate pelos HH-60G Pave Hawk da USAF (deslocados de Lakenheath para Lossiemouth). Apache, Chinook, Merlin, Lynx e Puma, com base em terra ou em navios de desembarque, realizaram missões diurnas e nocturnas em terra, incluindo fogo real em vários dos campos de tiro da Escócia. C-130 Hercules estiveram também presentes nas missões de transporte de tropas e/ou carga, sempre que necessário.

Aparecer sem ser convidado

Parelha de Typhoon FGR4 equipados com mísseis AIM-132 ASRAAM
Além das forças e meios convidados, na primeira edição do Joint Warrior de 2015 compareceram também alguns não convidados, protagonizando mais um episódio de tensão, nas relações recentes Leste-Oeste.
Tirando partido das condições definidas pelo Tratado de Armas Convencionais de Viena, uma delegação russa solicitou comparência na base aérea de Lossiemoouth, precisamente durante a realização do exercício. Como estranha “coincidência”, puderam ainda presenciar in loco, a reacção a um alerta aéreo através de uma parelha de Typhoon, em resposta à aproximação de dois bombardeiros estratégicos Tu-95… russos!



A participação nacional

Colocação de torpedo Mk.46 no Lynx da EHM
A Marinha de Guerra Portuguesa marcou presença este ano, tal como referido, no Joint Warrior.
Foi por isso possível ver o Lynx n/c 19202 da EHM nas funções de guerra anti-submarina (ASW) e anti-superfície(ASUW), para as quais foi inicialmente concebido e está, naturalmente, à vontade.
Adicionais acções incluíram ainda missões logísticas, acumulando um total de 08h35 (5h10 min em guerra ASW e ASUW e 3h25 em transporte logístico).
Tanto nas missões bastante executadas recentemente em cenário real, no domínio das ameaças assimétricas (pirataria, combate a actividades de tráfico, etc), como na chamada “guerra clássica”, algo secundarizada durante os anos que sucederam ao fim da Guerra Fria, foi possível realizar um treino de elevada qualidade e exigência, tirando o melhor partido da oportunidade de integrar o mais complexo exercício naval da Europa.
Fragata da Marinha Portuguesa NRP Álvares Cabral

O estreitamento de laços com a Marinha britânica, tem aliás vindo a ser intensificado, com a Armada lusa a comparecer já depois do Joint Warrior no Operational Sea Training em Inglaterra, desta feita com a fragata NRP Vasco da Gama, permitindo tirar partido das reconhecidas capacidades e know how da Royal Navy, para incorporar e partilhar conhecimentos. Novo regresso está também já agendado para a Escócia, para a segunda edição de 2015 do Joint Warrior.



Agradecimentos: Marinha de Guerra Portuguesa


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