DE PORTUGAL PARA A ROMÉNIA - com orgulho

Texto: Paulo Mata e António Luís
Artigo publicado na revista Sirius de Setembro de 2016



“Falar de F-16 em Portugal, é falar de uma história de sucesso”, foi uma das frases que se puderam ouvir no dia 28 de Setembro, na Base Aérea nº5 (BA5) em Monte Real, na cerimónia de entrega à Roménia, dos primeiros seis de um total de doze caças deste tipo.
Podendo à primeira vista ser confundida com uma mera expressão de ocasião, proferida na exaltação do momento, encerra neste caso uma verdade insofismável e facilmente comprovável. Qualquer que seja o ângulo pelo qual se observe o programa F-16 em Portugal, desde as frias e inequívocas estatísticas, aos mais subjectivos ganhos que aportou à própria FAP em termos de evolução e organização, e ao país em termos de tecnologia e prestígio, a conclusão é sempre a mesma.
O corolário e a coroa desse sucesso, podem ser observados no seu último capítulo: a alienação de uma dúzia dessas aeronaves para a Força Aérea Romena.

Um dos pilotos romenos que recebeu instrução em Monte Real

Os F-16 nas cores romenas com a torre de controlo da BA5 em fundo
Corolário, porque a história de sucesso do F-16 na FAP, a tornou numa escolha lógica para um novo operador como a Roménia. Que assinou em 2013 um contrato, que além da cedência das aeronaves, incluía ainda a sua modernização ao padrão OFP 5.2, revisão e upgrade de motores. A formação de pilotos, técnicos, engenheiros e planeadores de missão. Tudo isto só foi possível, devido ao capital de confiança de que o programa F-16 nacional dispõe internacionalmente.

Coroa, porque o desfecho de mais este episódio na história que começou em 1994 em Portugal, é a prova inequívoca da capacidade e maturidade nacionais, na operação, manutenção e modernização de uma aeronave de tecnologia de topo, a nível mundial, como é o F-16.

Mecânico romeno e português na chegada de uma missão de treino de um F-16 romeno

Por a história ser de sucesso, não se pense contudo que tudo foi fácil. Para honrar os compromissos assumidos com a República da Roménia, os militares da BA5 envolvidos no programa, tiveram de acumular as tarefas previstas no contrato de venda, com as normais actividades operacionais relacionadas com a frota portuguesa. Numa época em que as restrições financeiras do país impuseram cortes de cerca de 20% nos efectivos da FAP.
Sendo a Roménia um país do antigo Bloco de Leste europeu, houve ainda que ultrapassar barreiras linguísticas, culturais e metodológicas, recorrendo à secular capacidade nacional de descobrir novos caminhos e criar laços com o desconhecido.
E muitas outras pequenas histórias mais, que couberam nas 50.000 horas de mão de obra dedicadas ao programa de alienação, e que o número sugere, mas por si só não revela.
7900 horas académicas, 16.000 horas de on job training e 1250 horas de voo, são ainda assim outros números, que ajudam a perceber melhor do que foi composta a tarefa.


No horizonte, acordo idêntico actualmente em negociações com a Bulgária, bem como
a possibilidade de ampliação do número de aeronaves a adquirir pela Roménia. Em qualquer dos casos no entanto, e a concretizar-se, passará pela modernização em Portugal de aeronaves vindas dos EUA, e não pela redução da frota da FAP (que fica com um total de 30 células), como sucedeu desta vez.
A indústria de aeronáutica e defesa nacionais, e em última análise o país, terão obviamente muito a ganhar com o continuar de programas deste tipo.
Entretanto e enquanto não há mais definições para o futuro, até Setembro de 2017 serão entregues os restantes seis F-16 desta tranche, e estará destacada uma equipa da BA5 a prestar assistência técnica na Roménia, até um ano mais tarde.

TCor João Rosa, o ministro da Defesa Nacional Azeredo Lopes, Primeiro Ministro António Costa e o ministro da Defesa romeno 

Por tudo isto e muito mais, a FAP e a BA5 estão de parabéns e podem apresentar-se como exemplos de excelência para o país. O mesmo país que tantas vezes maltrata e calunia gratuitamente a instituição militar. Pode e deve colocar os olhos nesta história, para perceber como se constrói o sucesso.

Três dos primeiros seis F-16 entregues à FAR

NOTA: Como curiosidade, as aeronaves alienadas à Roménia usaram na FAP os números de cauda 15121 e 15123 a 15130 (monolugares) , 15137 a 15139 (bilugares). Algumas voam ainda com as cores portuguesas a partir de Monte Real, até serem pintadas com a camuflagem romena.
Envergarão as matrículas 1601 a 1609 (monolugares) e 1610 a 1612 (bilugares) quando forem finalmente entregues à Roménia. 

1610 o primeiro F-16 bilugar entregue à Roménia, ex-FAP 15137


1 Debriefing:

Anónimo disse...

Lentamente e lamentávelmente a desfazermo-nos do que nos faz falta. Muito pouco ou nada ficamos a ganhar o que quer que seja.

Alguém sabe quantos aviões o país deveria ter para ser verdadeiramente eficaz? É que nem uma defesa anti-aérea! Logo, em nada veio ajudar, esta venda. Será que antevejo algo parecido antes da vinda do F-16? Que interesses ião servir? A resposta - essa - já todos nós sabemos.

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