O C295M/PERSUADER NA FORÇA AÉREA

Reportagem  publicada na revista Mais Alto de Jan/Fev 2010 e  Avion Revue (Espanha) de Jan 2011
Texto: António Luís


A escolha


Em Fevereiro de 2006, a Força Aérea Portuguesa assinou um contrato para a aquisição de 12 aeronaves C-295M/Persuader, com vista à gradual substituição dos já algo vetustos C-212 Aviocar. A entrega destes aparelhos viria a ter o seu início em Fevereiro de 2009 com término marcado para Junho de 2010.

A aquisição deste tipo de aeronave tornou-se prioritária face à urgência em dispor de um meio aéreo que conjugasse uma série de valências que permitissem responder com eficácia e apuro técnico-táctico às missões de vigilância marítima (VIMAR). Este tipo de missão inclui tipologias tão diversas como fiscalização de actividades ilícitas (imigração ilegal, tráfico de droga), controlo de pescas e monitorização de poluição.
Seria mesmo esta última função e as operações relacionadas com o naufrágio do petroleiro “Prestige” ao largo da Galiza em Espanha, nas quais a FAP esteve envolvida, a precipitar a aquisição de uma nova e melhor plataforma. Apesar do reconhecimento internacional da qualidade e importância dos serviços prestados pelos Aviocar C-212-300 da Esquadra 401, equipados com o sistema SLAR (Side Looking Airborne Radar) ERICSSON, internamente ficou claro que uma aeronave com melhores performances poderia proporcionar ainda superiores desempenhos. Para além dessa importante componente, a aeronave a adquirir deveria ainda cumprir com eficácia missões de busca e salvamento (SAR), Evacuações Aeromédicas (MedEvac) , o transporte de teatro, transporte táctico e geral, bem como a fotografia aérea, tanto a partir da MOB (Main Operation Base) como das FOB (Forward Operation Base).

Tendo em conta estas variáveis, todas elas equacionáveis do ponto de vista da maximização de um recurso, levaram a que a opção pelo C-295 se revelasse lógica e, por isso, vantajosa quando comparada com a “concorrência” encabeçada no caso em apreço pelo C-27.

Dos 12 aviões adquiridos, 7 deles serão tácticos (C-295M) e os restantes 5 estarão mais vocacionados para missões VIMAR (C-295 Persuader), sendo que deste grupo, 2 se destinarão também a fotografia aérea (RFOT). As 12 aeronaves terão, todas, capacidade SAR (Search And Rescue) e (TA) Transporte Aéreo, como já foi aludido.

A operação

A utilização de módulos/kits que são montados e desmontados num curto espaço de tempo e adequam o aparelho à natureza da missão , é uma das vantagens do sistema de armas C-295, que permite um nível de prontidão, flexibilidade e aproveitamento da frota, antes impensáveis.
A operação destes aparelhos, confrontada com a do seu antecessor Aviocar é por isso incomparavelmente mais vantajosa, aliando factores de ordem técnico-táctica aos económicos, nomeadamente no custo das operações, na capacidade de carga e no raio de acção exponenciado praticamente a toda a ZEE (Zona Económica Exclusiva) nacional, numa área que supera largamente a área total do território e onde o Aviocar era manifestamente limitado. Este dado é tanto mais relevante no que toca às operações VIMAR, quando essa ZEE é atravessada diariamente por centenas de embarcações em importantes rotas internacionais, com os riscos e imponderáveis inerentes ao transporte marítimo.
Relativamente à distribuição futura das 12 aeronaves, o grosso da frota operará, como já se aludiu, a partir na MOB – BA6 Montijo, onde ficará também sedeado o alerta SAR/MedEvac.
A Base Aérea nº 4 (BA4) Lajes – Açores será a FOB 1 , onde ficarão estacionados 2 aviões, um VIMAR e um táctico.
No DAM, sedeado no Aeródromo de Manobra nº3 (AM3)/ Porto Santo - Madeira será a FOB 2, onde ficará estacionado 1 avião com capacidade VIMAR/Táctico.
Tanto na BA4 como no AM3, será igualmente mantido um alerta H24 para as missões SAR/MedEvac.
A Esquadra 502 manterá, como já é tradição, capacidade para uma FOB 3, algures no mundo, sempre que for chamada a isso.

As capacidades  

O C-295 é uma aeronave de última geração, que integra os mais sofisticados e actualizados sistemas de navegação, podendo operar nos teatros de operações actuais, de maior ou menor complexidade e exigência técnica e táctica.Relativamente às suas capacidades, o C-295 voa a uma velocidade de 240 nós (cerca de 450 km/h), pode operar até aos 30 mil pés (uma certificação especial que a versão da FAP possui); tem uma autonomia de 10 horas e pode transportar até 66 passageiros ou 24 macas e 6 médicos; pode operar em pistas não preparadas, em corridas de descolagem a aterragem relativamente curtas (STOL), tendo em conta a sua dimensão e capacidade de carga.
Das diversas capacidades do C-295, destaca-se a possibilidade de operar com NVG (Night Vison Goggles), em modo interno e externo e a operção do radar APN-241 que, entre outras valências, potencia a precisão na largada de carga e prevê/antecipa o fenómeno windshear em quaisquer condições de tempo.
Está também dotado de ajudas na SA (Situational Awareness), muito importantes para o piloto, em todas as condições de tempo, sobretudo em voos de formação e de navegação táctica, situações onde a consciência situacional deve estar assegurada.
A cabine incorpora também o conceito “Glass Cockpit”, o que significa que os tradicionais manómetros e mostradores de ponteiros, foram substituidos por ecrãs e paineis dos diversos computadores e sistemas, simplificando as operações no cockpit.
Sobretudo nas missões SAR, o C-295M pode também ser equipado com “Search Lights”nas estações sob as asas.
Exclusivo das duas aeronaves VIMAR/RFOT é o sistema infra-vermelhos Star Safire IV que permite a disponibilização de uma imagem de alta resolução obtida através do sensor electro-óptico, muito útil nas missões SAR e VIMAR. Operam também o radar EL/M-2022A(V)3, um sistema vocacionado para operações em ambiente marítimo, nomeadamente as antes aludidas operações de controlo de pesca, vigilância de Zona Económica Exclusiva, combate ao tráfico de droga, e SAR. Na fuselagem o sistema SLAR (Side Looking Airborne Radar) ERICSSON herdado dos Aviocar, que consiste basicamente, em percorrer a superfície marítima perpendicularmente à posição do avião e à sua trajectória, permite detectar alvos pequenos, situação que facilita bastante a visualização de embarcações de reduzidas dimensões, por vezes utilizadas em pesca ilegal ou em transporte de imigrantes ilegais, duas situações bastante comuns no presente.
-->Este sistema permite também uma deteCção eficaz de situações de poluição marítima, algo que se reveste de crescente importância no âmbito da proteCção dos ecossistemas marinhos, seja no controlo rotineiro da qualidade da biodiversidade nos oceanos, seja em situações de catástrofe como derrame de substâncias poluentes.
Ainda no que toca à electrónica do C-295M, todas as aeronaves incorporam os seguintes sistemas de auto-protecção:
RWR (Radar Warning Receiver): SPS-1000 V5
MWS (Missile Warning System): AN/AAR-54
ECM (Electronic Countermeasures): AN/ALQ-131 (um sistema já usado pelos A-7P e presentemente pela frota F-16 (OCU e MLU))
CMDS (Countermeasures Dispenser System): AN/ALE-47

Conjugando todas estas capacidades, o C-295 pode operar acima do tecto de nuvens, com vantagens óbvias em algumas operações, fazendo uso de todo o potencial disponibilizado pelas capacidades NVG e voando “sem luzes”, facto que proporciona enormes vantagens em alguns teatros de operações, nomeadamente quando voar sem ser visto é uma mais-valia.

A manutenção

A manutenção da frota será feita na Base Aérea nº 6, base MOB (Main Operation Base), com material Airbus Military fornecido pela empresa Fralibra igualmente localizada na BA6 através de um contrato logístico com a duração de 30 anos, revisto de 5 em 5. A mão-de obra da manutenção, porém, é integralmente da FAP. De dois em dois ou de quatro em quatro anos,consoante a taxa de utilização, os aparelhos serão submetidos a grandes revisões/inspecções da responsabilidade da Airbus Military.

Sinopse

Para finalizar, temos como dado adquirido que o C-295 introduziu/introduzirá novos conceitos de apoio logístico e apoio às missões, numa tendência clara para aligeirar processos, seja das operações em si, seja da sua manutenção electromecânica. Também no sempre complexo processo de adaptação das tripulações ao voo e exploração do potencial de uma nova aeronave, passa esta a ser feita através do (inovador) conceito e-learning, que de certo modo dispensa a presença tutorial de um instrutor, sendo por isso vantajosa em termos da gestão dos recursos humanos, sempre complicados de gerir e rentabilizar.
No final do ano de 2009 estavam já operacionais na Base Aérea nº 6 do Montijo, as aeronaves 16702, 16703, 16704, 16705, 16706 e 16707. No final de Janeiro foi também entregue, com número de cauda 16709, o primeiro C-295M VIMAR/RFOT, que contudo continuará mais algum tempo em Sevilha para instrução de tripulações.
A Esquadra 502 – Elefantes, prepara-se assim para liderar novos conceitos e procedimentos com a operação de um meio aéreo que representa, de facto, um enorme salto qualitativo e operacional, de extrema importância para a Força Aérea Portuguesa no século XXI, mantendo-se como o seu lema “Sobre as asas ínclitas da fama”.





Glossário:
DAM – Destacamento Aéreo da Madeira
FAP – Força Aérea Portuguesa
FOB – Base de Operação não Principal (Forward Operation Base)
MedEvac – Medical Evacuation (Evacuação Médica)
MOB – Base de Operação Principal (Main Operation Base)
NVG – Night Vision Goggles
RFOT – Reconhecimento Fotográfico
SAR – Search and Rescue (Busca e Salvamento)
SLAR - (Side Looking Airborne Radar)
STOL – Short Take Off and Landing
TA – Transporte Aéreo
VIMAR – Vigilância Marítima
ZEE – Zona Económica Exclusiva



1 Debriefing:

Paulo Fernandes disse...

Reportagem extraordinária. Muitos parabéns.

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