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PASSAGEM PARA A ÍNDIA - Sukhois e Typhoons nos céus do Reino Unido

Texto: Paulo Mata
Artigo publicado na revista Sirius de Setembro de 2015

Typhoon da RAF e Su-30 da IAF sobre o Mar do Norte     Foto: CrownCopyright/Paul Oldfield

De tempos a tempos, acontecimentos há que abanam as fundações daquilo que é tido como certo. O exercício Hindradhanush, que opôs Typhoons da Royal Air Force (RAF) e Sukhoi Su-30 da Força Aérea Indiana em Julho passado, nos céus da Grã Bretanha, poderá ser um desses momentos.
Apesar de não ser a primeira vez que tal acontece, uma vez que o referido exercício vai já na quarta edição (com a primeira em 2007), terá sido a primeira vez que os Su30MKI da FA Indiana se apresentaram com capacidade total de combate. Terminado o exercício e após o regresso à Índia, não foram de modo algum discretos nem modestos em anunciar que em condições de combate dentro de alcance visual (portanto a curta distância, também conhecidos como “dogfight”), os pilotos indianos chegaram a obter vitórias de 12-0 contra os Typhoon da RAF.

Sukhoi Su-30 da IAF taxia em Coningsby

A inesperada revelação (tanto pela deselegância do acto em si, como pelo desnível dos números) foi recebida com alguma frieza da parte britânica, que não desmentindo as declarações dos congéneres asiáticos, sublinhou que as condições dos combates a curta distância estiveram algo distantes das situações prováveis em campo de batalha real. Ambas as partes confirmariam também, que a distâncias maiores e em condições mais realistas, os Typhoon eventualmente equilibraram os pratos da balança, ou mesmo inclinado para o seu lado.

Typhoon FGR4 com a pintura comemorativa dos 70 anos da Batalha de Inglaterra

Poderá alegar-se que as declarações indianas, proferidas pelo  comandante do destacamento à televisão de Nova Deli, se destinavam a consumo interno, e serão por isso algo exageradas. Certo é que, ainda durante o decorrer do exercício, o mesmo interlocutor, embora mais comedido e politicamente correcto, deixava já transparecer a confiança de quem se sente por cima.
Polémicas à parte, o exercício permitiu medir forças entre dois caças de topo da actualidade, numa oportunidade ímpar até ao momento na Europa. Numa altura em que as intercepções a caças de fabrico russo se dão a ritmos por vezes alarmantes, poder avaliar as suas reais performances em condições próximas às de combate, era só por si, condimento suficiente para suscitar um interesse redobrado no exercício.  De igual modo, do lado contrário, e após vários anos a lutar contra problemas de operacionalidade nos Su-30, havia a necessidade de avaliar todo o potencial da mais avançada máquina de combate da FA Indiana, contra um oponente igualmente de 4ª Geração.

Sukhois e Typhoons em Coningsby

Apesar da separação geográfica de milhares de quilómetros, a cooperação entre a RAF e a FA Indiana não é de modo algum recente, remontando mesmo à I Guerra Mundial. Ainda nos dias de hoje, pilotos da FA Indiana recebem inclusivamente formação em Valley no País de Gales. A maior diferença está portanto nos aviões que voam e nos pontos fortes de cada um: o Eurofighter Typhoon FGR4 possui maior velocidade e tecto de serviço, menor carga alar, melhor razão de subida e velocidade angular. Já os Sukhoi Su-30MKI possuem motores vectorizados, radar de varrimento electrónico e um sistema óptico de detecção de calor com 90km de alcance.

A linha da frente de Typhoons em Coningsby

Os combates que se desenrolaram maioritariamente sobre o Mar do Norte, começaram pelo  básico 1 contra 1 a curta distância, para depois evoluir em complexidade através de 2 contra 1, 2 contra 2, passando depois para os combates fora do alcance visual de 4x4 e 8x8, culminando na missão final de 10x 10 (no caso 6 Typhoons e 4 Sukhois aliados, contra uma força constituída por 10 Hawks e Typhoons da RAF e outros modelos contratados, na função de agressores). As comunicações entre aeronaves de fabrico ocidental e russo, quando actuando como aliadas, foram realizada apenas através de rádio, já que o sistema de informação táctica das aeronaves indianas, não é compatível com o Link 16 da NATO. De igual modo, e apesar da capacidade dos radares dos caças não ter sido limitada em alcance, foram utilizados em “modo de treino”, para não revelar as frequências de combate. Ambos os lados apresentaram ainda um lote de pilotos operacionais com diferentes graus de experiência, de modo a expô-los a uma plataforma “inimiga” de topo, da mesma categoria.
Importa ainda acrescentar, que no exercício participaram também C-130 britânicos e indianos no transporte de tropas pára-quedistas a serem escoltados pelos caças, bem como Voyager e Il-76 Midas na função de reabastecedores aéreos, para cada nacionalidade. Também os C-17, em uso por ambos os países, realizaram missões em conjunto, permitindo partilhar igualmente experiências na área do transporte táctico.

Su-30MKI na final para a aterragem em Coningsby

No final do exercício, e independentemente de quem ganhou ou perdeu mais duelos, o Hindradhanush (arco-íris em hindu) foi sem dúvida uma oportunidade de treino como poucas existem, para ambas as partes. Tanto a nível táctico, como tecnológico, permitiu avaliar o  ponto da situação no combate aéreo dos dias de hoje.
Permitiu também com certeza avaliar a real valia dos motores russos vectorizados em 3D, em situações de combate, após muitos anos de desvalorização dessa capacidade por parte dos fabricantes e forças ocidentais.

Os motores vectorizados dos Su-30MKI

E se é lícito alegar, que numa era em que a evolução dos sistemas de armas, permite tornar secundária a necessidade de alinhar um avião com o inimigo para o poder alvejar (mediante o recurso a miras montadas no capacete do piloto e mísseis de elevado ângulo de acção) a história tem-se encarregado de provar que sempre que se desprezaram nalguns caças as capacidades de combate aéreo a curta distância, os teatros de guerra acabaram por proporcionar situações que colocaram a nu essas deficiências.
E do que transpareceu dos embates entre Typhoon e Su-30 (a curta distância um único Su-30 conseguiu abater dois Typhoon por exemplo), é que equilibrando a tecnologia das duas plataformas, o Su-30 no final será sempre um melhor caça.





JOINT WARRIOR 15-1 - A Marinha Portuguesa nos mares do Norte

Texto: Paulo Mata
Artigo publicado no jornal Take-Off de Março de 2015

Typhoons FGR4 alinhados junto à torre de controlo de Lossiemouth, Escócia
Escócia: terra de clima agreste, talhada por duros guerreiros ao longo dos séculos. O mais conhecido de todos, porventura William Wallace, (imortalizado no galardoado filme de 1995 “Braveheart”) que conseguiu unir vários exércitos numa única força conjunta. Não é de estranhar por isso que o maior exercício militar realizado na região, tenha por nome Joint Warrior. Sendo “Joint” referente à natureza conjunta do exercício,  englobando as forças aéreas, navais e terrestres.

Eurofighter Typhoon FGR4
De periodicidade semestral, o Joint Warrior, tornou-se no maior exercício táctico europeu. Prova disso foram os 55 navios de superfície e submarinos que reuniu na sua primeira edição de 2015 (15-1), entre 13 e 24 de Abril. Entre eles, pela primeira vez desde 2008, uma participação portuguesa, com a fragata NRP Álvares Cabral e o Lynx Mk.95 do destacamento “Hooters” da Esquadrilha de Helicópteros da Marinha (EHM).


A guerra no ar
Parelha de Tornado GR4 da Esquadra XV (R) regressa a Lossiemouth
 Apesar de ser um exercício de organização da Marinha do Reino Unido (Royal Navy), o Joint Warrior é um exercício destinado a treinar os três vectores de força militar: terra, mar e ar.
Edições anteriores contam com uma extensa lista de esquadras aéreas e aeronaves  participantes, tanto internas, como externas, com especial assiduidade para as francesas, americanas e canadianas. 

Typhoon FGR4 à partida para um missão nocturna
Na versão 15-1 contudo, o esforço de Guerra no Médio Oriente, limitou a presença de caças, praticamente aos Typhoon e Tornado da RAF (lançados a partir de Lossiemouth) e aos Hawk da Royal Navy (a partir de Prestwick) e F-16 turcos ( desde Leeming) na função de agressores.

CP-140 Aurora canadiano, um P-3C da US Navy e Marinha alemã

Mesmo as aeronaves de patrulhamento marítimo (MPA) normalmente bastante numerosas, ficaram este ano reduzidas a cinco unidades, embora bastante diversificadas, incluindo um P-8A Poseidon (EUA) dois P-3C (EUA e Alemanha), um CP-140 Aurora (Canadá) e um Atlantique II. A sua actividade foi ainda assim bastante intensa e com as missões a durarem entre as cinco e as nove horas cada, revezando-se nos céus.
Aeronaves de transporte actuaram a partir de Marham e os reabastecedores desde Brize Norton.



A guerra no mar

Posto de observação do Atlantique francês

Os 55 vasos de guerra que integraram o exercício 15-1, tornam-no o maior de sempre até à data. Simulando duas forças navais em conflito, sendo a agressora representada pelo Standing NATO Maritime Group 2 (SNMG2), actuando contra uma força liderada pela Royal Navy, sob a égide da NATO.

Um CP-140 Aurora canadiano, presença habitual nos exercícios Joint Warrior
Se houve lições retiradas da II Guerra Mundial, a de que os meios aéreos são essenciais para vencer no mar, é inevitavelmente uma delas. Por essa razão, quer os MPAs de asa fixa com base em terra, actualmente com capacidade de comunicação em rede com os meios navais, quer as aeronaves de asa rotativa transportadas pelos próprios navios (Sea King, S-70B, Lynx, MH-60, SH-60, Merlin, entre outros vários outros modelos), foram os olhos e os vectores de projecção de força rápida, como se exige a uma moderna força naval.

Atlantique da Marinha Francesa regressa a Lossimouth após 6 horas de patrulhamento

A Guerra em terra

Sikorsky HH-60G Pave Hawk da USAF
Tal como a guerra aérea, as operações terrestres foram este ano secundarizadas pela magnitude das marítimas. Ainda assim, diariamente foram conduzidas operações de resgate em zona de combate pelos HH-60G Pave Hawk da USAF (deslocados de Lakenheath para Lossiemouth). Apache, Chinook, Merlin, Lynx e Puma, com base em terra ou em navios de desembarque, realizaram missões diurnas e nocturnas em terra, incluindo fogo real em vários dos campos de tiro da Escócia. C-130 Hercules estiveram também presentes nas missões de transporte de tropas e/ou carga, sempre que necessário.

Aparecer sem ser convidado

Parelha de Typhoon FGR4 equipados com mísseis AIM-132 ASRAAM
Além das forças e meios convidados, na primeira edição do Joint Warrior de 2015 compareceram também alguns não convidados, protagonizando mais um episódio de tensão, nas relações recentes Leste-Oeste.
Tirando partido das condições definidas pelo Tratado de Armas Convencionais de Viena, uma delegação russa solicitou comparência na base aérea de Lossiemoouth, precisamente durante a realização do exercício. Como estranha “coincidência”, puderam ainda presenciar in loco, a reacção a um alerta aéreo através de uma parelha de Typhoon, em resposta à aproximação de dois bombardeiros estratégicos Tu-95… russos!



A participação nacional

Colocação de torpedo Mk.46 no Lynx da EHM
A Marinha de Guerra Portuguesa marcou presença este ano, tal como referido, no Joint Warrior.
Foi por isso possível ver o Lynx n/c 19202 da EHM nas funções de guerra anti-submarina (ASW) e anti-superfície(ASUW), para as quais foi inicialmente concebido e está, naturalmente, à vontade.
Adicionais acções incluíram ainda missões logísticas, acumulando um total de 08h35 (5h10 min em guerra ASW e ASUW e 3h25 em transporte logístico).
Tanto nas missões bastante executadas recentemente em cenário real, no domínio das ameaças assimétricas (pirataria, combate a actividades de tráfico, etc), como na chamada “guerra clássica”, algo secundarizada durante os anos que sucederam ao fim da Guerra Fria, foi possível realizar um treino de elevada qualidade e exigência, tirando o melhor partido da oportunidade de integrar o mais complexo exercício naval da Europa.
Fragata da Marinha Portuguesa NRP Álvares Cabral

O estreitamento de laços com a Marinha britânica, tem aliás vindo a ser intensificado, com a Armada lusa a comparecer já depois do Joint Warrior no Operational Sea Training em Inglaterra, desta feita com a fragata NRP Vasco da Gama, permitindo tirar partido das reconhecidas capacidades e know how da Royal Navy, para incorporar e partilhar conhecimentos. Novo regresso está também já agendado para a Escócia, para a segunda edição de 2015 do Joint Warrior.



Agradecimentos: Marinha de Guerra Portuguesa


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