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O MAIOR ESPECTÁCULO DO MUNDO - Axalp 2015

Texto: Paulo Mata
Artigo publicado na revista Sirius de Outubro de 2015





 À primeira vista poderá parecer gratuita, ou quiçá leviana a afirmação de que Axalp é o melhor espectáculo de aviação do mundo. Começando até pela questão dos acessos: uma escalada até aos 2250m de altitude, onde de se situa o anfiteatro natural do campo de tiro de Ebenfluh, palco do evento. Depois, as condições meteorológicas, bastante instáveis nesta época do ano nos Alpes suíços, o que leva a que muitas vezes parte ou a totalidade do programa seja cancelado. Os preços da deslocação, alojamento e alimentação. As participações de aeronaves raramente são variadas. E por aí adiante. Poder-se-ia até elaborar uma tese, sobre as razões que contrariam a afirmação de que Axalp é o melhor espectáculo de aviação do mundo. E apenas um argumento para a rebater: valem a pena todos os transtornos e inconvenientes para lá ir? Valem!


Após a primeira vez, torna-se um vício. E as razões só se compreendem eventualmente presenciando o espectáculo in loco, “ao vivo e a cores”. Com montanhas de cerca de 3000m como pano de fundo, pelo “palco” vão desfilando (leia-se disparando) os caças F-18 e F-5 da Força Aérea Suíça, abrindo fogo sobre três alvos distintos colocados nas encostas de outras tantas montanhas, aumentando a espectacularidade do evento, ao surgirem de varias direcções e altitudes.


Entre as diversas vagas de ataque, e porque se trata nesta altura de um air show, além do treino e tiro, fazem exibições de performance a solo, em patrulha ou simples passagens, as diversas outras aeronaves que servem na Arma Aérea Helvética, ou Protecção Civil, nomeadamente os aviões de treino Pilatus PC-721, helicópteros Super Puma/Cougar, EC635 e AW109, com um dos momentos mais altos a ser protagonizado pela Patrouille Suisse em F-5E Tiger II semelhantes aos que realizam tiro, à parte as coloridas vestimentas (leia-se pinturas) que envergam, obviamente nas cores da bandeira suíça.



As largadas de flares pelos F-18 e Cougar  são outro dos momentos mais aguardados  em cada sessão, fazendo as delicias especialmente dos fotógrafos, mas também do simples espectador, a desfrutar apenas do espectáculo.



Mesmo para os dias em que a meteorologia não permite a utilização do campo de tiro, a base aérea de Meiringen, a partir de onde operam os F-18 e os helicópteros, a escassos 10 km de Axalp, proporciona  motivos de interesse quanto baste para um dia bem passado, ou não tivesse sido considerada já a base aérea mais bonita da Europa. Situada no interior de uma povoação rural, com os taxiways a atravessarem as ruas e os campos de cultivo, as localizações e as oportunidades para ver os movimentos de aeronaves, são muitos e incluem até um terraço próprio para o efeito, na zona da torre de controlo.



Ainda como contrariedade a assinalar assim e pese embora o Live Fire Event the Axalp seja  sempre um deleite para o olhar, a quantidade de passagens dos caças parece ter vindo a diminuir. Já o publico todos os anos tem vindo a aumentar, fruto da divulgação viral que muitas das fotos dos presentes fazem na internet, havendo espectadores de quase todos os cantos do planeta. Talvez por isso mesmo, e pelo interesse exponencial que o espectáculo tem suscitado dentro e além fronteiras, as medidas restritivas no acesso livre a Axalp têm vindo a intensificar-se, passando a custar 45 Francos por dia (cerca de 42 euros), quando antes se pagava apenas o parque de estacionamento e o teleférico (para quem não quisesse realizar a totalidade do caminho a pé).  Na Suíça faz-se dinheiro com o turismo em tudo. Até porque mesmo sendo caro, as pessoas continuam a aparecer.



Depois do interregno de 2014, devido às comemorações dos 100 da FA Suíça em Payerne, 2015 marcou o regresso a Axalp, tal como vem sendo tradição nas ultimas décadas, pelos primeiros dias de Outubro de cada ano.
Para o ano, haverá certamente mais. E nós não nos importamos.




AXALP: NO TOPO DO MUNDO

Texto: Paulo Mata
Artigo publicado no jornal Take-Off de outubro de 2013


Axalp é o nome da povoação próxima pelo qual é popularmente conhecido o campo de tiro de Ebenfluh da Força Aérea Suiça, nos Alpes.
Os suíços são um povo neutral por tradição, mas não se pense que tal significa que são desmilitarizados. Muito pelo contrário. A defesa da neutralidade suíça é uma espécie de preocupação colectiva, que está visível um pouco por todo o lado - desde os bunkers existentes na maior parte dos edifícios privados, aos bunkers colectivos que se podem vislumbrar nos sopés das montanhas. É fácil tropeçar em bases aéreas semi-abandonadas, depois do fim da Guerra Fria, transformadas agora em espaços lúdicos, mas facilmente recuperáveis para uso operacional. Mesmo a base aérea de Meiringen, a partir de onde operam os F/A-18 e F-5 que vemos no campo de tiro, está construída dentro de uma aldeia. As estradas atravessam a pista e taxiways, existindo passagens de nível com cancelas para permitir a convivência de veículos terrestres e aeronaves num mesmo espaço. 


Ainda não há muito tempo, e já depois da Guerra Fria, realizavam-se regularmente exercícios de operação de aeronaves a partir de troços de auto-estrada, tendo sido mesmo esta possibilidade um dos critérios para a aquisição do F/A-18. Em Meiringen os F/A-18 saem de hangares escavados na montanha, ladeados por quedas de água, nas escarpas que completam o cenário. 


Ainda hoje, e contra a tendência por toda a Europa, os cidadãos suíços do sexo masculino não só têm que realizar serviço militar obrigatório a partir dos 18 anos, como têm que efectuar treinos regulares até atingirem os 35 anos de idade. Entretanto, são responsáveis pelo equipamento pessoal, que levam para casa, incluindo o armamento. Mesmo com o fim da Guerra Fria a população já se pronunciou negativamente em dois referendos relativamente ao fim do serviço militar obrigatório, tendo diminuído apenas o número de efectivos permanentes nas Forças Armadas.


Os suíços não tomam por isso a segurança do país de ânimo leve, e o evento anual aberto ao público, em Ebenfluh, com o treino de tiro dos caças, é um motivo de orgulho no país e é quase uma espécie de celebração das suas particularidades, tudo reunido numa paisagem que mais parece um postal ilustrado.
Desde o final do século passado que o evento tem vindo a ser promovido pelas forças armadas locais. A proliferação de imagens captadas desde então, principalmente através da internet, acabaria por criar um movimento de entusiastas por todo o globo, que, quais romeiros, se deslocam todos os anos a Axalp, carregados não de velas ou artefactos religiosos, mas de poderosas teleobjectivas e câmeras do último modelo.
É vê-los subir a montanha a partir das seis da manhã, a cumprir os 700 metros de desnível entre Axalp e Ebenfluh, para conseguir capturar as primeiras passagens do dia.


Apesar do esperado prémio (levar uns bons Gigabytes de fotos únicas para casa), uma jornada a Ebenfluh não está isenta de riscos e possíveis contratempos. Não se aconselha, por exemplo, realizar a "campanha" sozinho, já que o perigo de queda (quase sempre com material pesado às costas) é elevado, assim como perder-se no caminho com a “ajuda” do sempre ameaçador nevoeiro é também uma possibilidade real. A chuva e o mau tempo tanto podem tornar a caminhada extremamente penosa e difícil, como fazer cancelar o evento, o que não deixa de ser ingrato para quem já realizou a subida, e pior ainda para quem comprou passagens desde longe.



Ainda assim, todos os anos a assistência tem vindo a aumentar, principalmente nos dias em que as condições estão todas reunidas para se poder desfrutar do cenário na plenitude.
Nada nos prepara, contudo, para o espectáculo que é ver o treino de tiro em Axalp. Alvos colocados num anfiteatro natural a cerca de 2300 metros de altitude nos Alpes, com caças a passarem, vindos de todos os lados, a metralharem a escassas centenas de metros da distância. Aos já referidos F/A-18 e F-5 a praticar tiro, juntaram-se este ano JAS39 Gripen suecos, oferecendo um vislumbre do que será o futuro próximo, já que a Suíça optou pelos caças suecos para substituir os F-5, o que deverá suceder dentro dos próximos anos. Demonstrações de salvamento por helicóptero em montanha, exibição do Pilatus PC-21 de fabrico local, da Patrouille Suisse e largada de flares q.b. completam o programa habitual, que tantos tem levado a subir o monte de Axalphorn, isto é, lá está, se a meteorologia o permitir.


Quando acaba a aviação há que descer a montanha, o que pode ser tão ou mais difícil do que a subida. Mesmo que não chova, os terrenos estão normalmente húmidos e o corpo já se ressente do esforço, para além da motivação da descida ser amplamente inferior àquela que nos levou ao cume.


No fim, e já no regresso, tempo ainda para uma sessão de arqueologia aeronáutica, na base aérea desactivada de Interlaken, onde por entre muitos antigos abrigos de caças, agora abandonados ao gado, foi possível descobrir um Hawker Hunter, conservado com armamento e inúmeras curiosidades relacionadas.


Axalp é sem dúvida uma experiência para se viver pelo menos uma vez na vida. A estadia e a alimentação são caras (como quase tudo na Suíça), o acesso é difícil, o tempo pode falhar. Mas quando corre bem, vale decididamente a pena.


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