As siglas TLP correspondem a Tactical Leadership Programme ou Programa de Liderança Tática. Trata-se de um centro de formação avançada para pilotos e tripulações, constituído mediante um acordo de dez nações da NATO (Bélgica, Dinamarca, França, Alemanha, Grécia, Itália, Países Baixos, Espanha, Reino Unido e Estados Unidos) e cujos inícios remontam ao ano de 1978.
O objetivo do TLP consiste em melhorar a operacionalidade e a eficácia das Forças Aéreas Aliadas através do desenvolvimento das capacidades de liderança de pilotos e tripulações aéreas e da prática de planeamento e execução de missões complexas num ambiente multinacional e num cenário de ameaça realista. Também se desenvolvem cursos teóricos para pessoal dos três ramos, de países tanto da NATO. como fora da Aliança, e colabora-se na elaboração de doutrina aérea.
O TLP está instalado em Espanha há 15 anos, desde que em 2009 iniciou a sua atividade em terras manchegas. A sua transferência para a Base de Albacete desde Florennes foi motivada principalmente pelas crescentes dificuldades na realização dos cursos na base belga, devido à congestão do espaço aéreo na Europa Central. A Espanha oferece instalações modernas e perfeitamente adaptadas às exigências de um centro destas características, um espaço aéreo muito adequado para o treino requerido pelo TLP e condições meteorológicas favoráveis ao desenvolvimento dos cursos de voo (Flying Courses).
A atividade anual do TLP consiste principalmente em:
• Realização de 6 cursos de voo, cada um com a duração de um mês e a participação de cerca de 30 aviões e 400 pessoas.
• Realização de 14 cursos teóricos de uma semana de duração, destinados a cerca de 40 pessoas.
• Reuniões de doutrina; conferências e seminários.
História
No final dos anos setenta, o Quartel-General da NATO no Centro da Europa propôs impulsionar as operações aéreas táticas de caráter multinacional e, em janeiro de 1978, Alemanha, Bélgica, Canadá, EUA, Países Baixos e Reino Unido subscreveram o Programa de Liderança Tática, TLP (Tactical Leadership Programme) e localizaram-no na Base Aérea de Fürstenfeldbruck (Alemanha). Os cursos começaram como seminários de duas semanas de duração, nos quais tripulações experientes expunham, debatiam, avaliavam e formulavam táticas, técnicas e procedimentos.
Em setembro de 1979, o Programa foi transferido para o norte da Alemanha, para a Base Aérea de Jever e ao seminário foi adicionada uma fase de voo, ampliando-se para quatro semanas. Em Jever, completaram-se 71 cursos de voo, graduando-se cerca de 2000 pilotos e tripulantes.
Em março de 1989, o TLP foi transferido para a Base Aérea de Florennes (Bélgica) e reestruturado em três ramos (secções): ao já existente de Voo, “Flying Branch”, juntaram-se o de Estudos, “Academics”, e o de Doutrina, “Concepts and Doctrine”. Um oficial de ligação da Armée de l'Air juntou-se ao Staff do TLP e a França começou a participar ativamente nos cursos.
Em 1996, juntaram-se a Dinamarca e a Itália. Em 1997, quando o Canadá retirou as suas forças da Alemanha, abandonou também o Programa, mas manteve um oficial de ligação e continuou a participar nos cursos.
Em janeiro de 2002, o TLP tornou-se uma unidade de apoio do Quartel-General Aliado na Europa, SHAPE (Supreme Headquarters Allied Powers Europe), que se juntou como um parceiro mais do Programa. O TLP passou então a chamar-se Programa de Liderança Tática do Comando Aliado de Operações, ACO TLP (Allied Command Operations TLP). Nesse mesmo ano, a Espanha juntou-se ao programa, ampliando a projeção do Programa para o sul da Europa. Em 2009, juntaram-se a França e a Grécia.
Em julho de 2009, o Programa iniciou a sua transferência para a Base Aérea de Albacete, inaugurando-se oficialmente a 1 de outubro, sob a presidência do Secretário de Estado da Defesa espanhol, Constantino Méndez Martínez. No dia 4 de novembro, começou o primeiro curso académico, sendo a modificação mais relevante na sua estrutura, a fusão da secção académica e da de conceitos e doutrina numa só (Academics and Doctrine Branch). No dia 9 de novembro, iniciou-se o primeiro curso de voo em Espanha - os voos propriamente ditos começaram no dia 11 - e no dia 12 teve lugar uma Jornada para a Imprensa, à qual compareceram meios de comunicação nacionais, regionais e locais de imprensa escrita, rádio e televisão.
O pessoal que hoje faz parte do TLP em Albacete sente-se orgulhoso da reputação internacional do Programa, considerado um centro de excelência para o treino em liderança tática de pilotos e tripulações experientes. Várias gerações de pilotos, tripulações e pessoal de apoio às operações aéreas beneficiaram até hoje do Programa e estabeleceram fortes laços de amizade que impulsionam o entendimento e a cooperação entre as nossas nações. Albacete oferece as melhores condições para que o futuro do TLP seja tão brilhante quanto o seu passado.
Na última jornada de imprensa do exercício realizada a 21 de novembro, o Coronel Cesar Acebes confirmou-nos a incorporação ao programa de Liderança Tática, a Força Aérea Portuguesa a partir de 1 de janeiro de 2025, sendo efetiva a sua participação no primeiro curso do ano de 2025.
Missão Principal do TLP
As missões principais do TLP podem dividir-se em duas secções: a de voo e a académica, com os objetivos que citamos a seguir:
Secção de voo, cujos objetivos são:
• Melhorar as capacidades de liderança tática, e a sua aplicação em voo, dos pilotos da NATO encarregados de comandar formações de aviões de certa envergadura.
• Melhorar a interoperabilidade tática dentro das Forças Aéreas da NATO ao trabalhar com outras Forças Aéreas com diferentes táticas e capacidades (meios aéreos).
Secção académica, com os seguintes objetivos:
• Proporcionar uma série de cursos teóricos que tratam de: doutrina e táticas perante ameaças, armamento e os seus efeitos, características de aviões, capacidades de Mísseis Superfície-Ar SAM / Artilharia Antiaérea AAA, operações aéreas ofensivas e defensivas e coordenação no campo de batalha.
• Aumentar as capacidades para o desenvolvimento do seu trabalho aos participantes e promover um conhecimento comum de todas as facetas nas operações aéreas táticas da NATO.
• Examinar os diferentes conceitos de emprego tático das nações e sugerir áreas de melhoria.
• Desenvolver conceitos e doutrina para as operações integradas, assim como o emprego e o desdobramento das forças de combate da NATO e os seus sistemas de armas.
A seguir, vamos descrever e falar um pouco mais em profundidade sobre essas secções:
Secções TLP
Secção de Voo
Os objetivos desta secção são:
• Melhorar as capacidades de liderança tática, e a sua aplicação em voo, dos pilotos da NATO encarregados de comandar formações de aviões de certa envergadura (COMAO).
• Melhorar a interoperabilidade tática dentro das Forças Aéreas da NATO ao trabalhar com outras Forças Aéreas com diferentes táticas e capacidades (meios aéreos).
Organização da secção de voo
O comando da secção de voo é exercido por um Tenente-Coronel que roda entre os países com uma quota de participação no Programa superior a 10%: França, Alemanha, Itália, Reino Unido e Estados Unidos. É composta por aproximadamente 18 oficiais das 10 nações participantes no Programa, distribuídos por secções, Ar/Solo e Ar/Ar. Todos os instrutores têm grande experiência e mantêm a sua aptidão voando nas suas unidades ao terminar os cursos. Eles encarregam-se de coordenar os cenários para as missões de voo dos cursos, ministrar as conferências necessárias, avaliar os resultados e extrair as lições derivadas de cada missão realizada.
O curso de voo
Normalmente, realizam-se seis cursos por ano, com quatro semanas de duração cada um. Participam em média 24 aviões por curso, com a respetiva tripulação e equipa de manutenção. Os aviões participantes cobrem uma ampla seleção de aviões táticos com os quais a NATO conta hoje em dia.
O primeiro curso na Base de Albacete começou no dia 9 de novembro e os voos no dia 11 de novembro de 2009, estando ao comando do TLP o Coronel Bengoechea, sendo este o primeiro Coronel Espanhol designado na Base Aérea de Albacete para este comando.
Descrição do curso de voo
O objetivo do curso é proporcionar treino realista às tripulações dentro das restrições próprias de tempo de paz. Os participantes encontram-se todos os dias com um cenário diferente. Estes cenários são desenhados para que as tripulações enfrentem situações diversas, obrigando-os a planear a partir de diferentes perspetivas e a trabalhar em equipa. É um fórum inigualável para trocar conhecimentos, táticas e modos de emprego, maximizando o aproveitamento dos diferentes meios disponíveis em missões aéreas combinadas, conhecidas como COMAO.
As missões serão realizadas a partir de Albacete, utilizando zonas de treino (Deltas) tanto em terra como no mar. Podem incluir missões de longa distância com reabastecimento em voo, voando em espaço aéreo de nações adjacentes. Desta forma, amplia-se a variedade de zonas e objetivos a utilizar.
O Programa está em constante evolução, desenvolvendo novos cenários que são validados nos cursos de voo para estar preparado para qualquer ameaça futura.
Secção Académica e de Doutrina do Tactical Leadership Programme
Os objetivos desta secção, tal como indicamos na missão principal do TLP, são:
• Proporcionar uma série de cursos teóricos que tratam de: doutrina e táticas contra ameaças, armamento e seus efeitos, características dos aviões, capacidades de mísseis superfície-ar (SAM) e artilharia antiaérea (AAA), operações aéreas ofensivas e defensivas, e coordenação no campo de batalha.
• Aumentar as habilidades dos participantes e promover um conhecimento comum de todas as facetas das operações aéreas táticas da NATO.
• Examinar os diferentes conceitos de emprego tático das nações e sugerir áreas de melhoria.
• Desenvolver conceitos e doutrina para as operações integradas, bem como o emprego e o desdobramento das forças de combate da NATO e seus sistemas de armas.
Estrutura e atividades
Esta secção é comandada por um Tenente-Coronel nomeado por rotação entre os países membros do MOU e é composta por duas secções: Académica e Inteligência. Alguns dos cursos são ideais, embora não indispensáveis, para a posterior participação no curso da secção de Voo. Esta secção é integrada por especialistas em Operações Aéreas Ofensivas e Defensivas, Guerra Eletrónica e Busca e Salvamento em Combate. Aproximadamente 500 participantes das forças aéreas da NATO assistem anualmente aos cursos da secção Académica em Albacete.
Uma característica importante do TLP é que as duas secções do TLP, a Académica e a de Voo, interagem e se apoiam mutuamente para o benefício do conjunto. A Secção Académica e de Doutrina do TLP está muito consciente do papel em constante mudança das Forças Aéreas hoje em dia. A ênfase nas novas ameaças e a necessidade de solidariedade internacional para enfrentá-las resultam numa maior importância ao desenvolvimento das operações em conjunto e na combinação entre elas para uma maior interoperabilidade.
Pessoal e orçamento do Tactical Leadership Programme
O staff do TLP é composto por 55 pessoas provenientes das 10 nações participantes. Além disso, o programa emprega pessoas da região de Albacete através de um contrato multisserviço. A transferência do TLP de Florennes para Albacete teve um impacto positivo na economia local durante o período de 2008-2009: o investimento total na Base Aérea superou os 32 milhões de euros em infraestruturas e equipamentos. Este investimento teve, e continua a ter, um grande impacto nas empresas de Albacete que participaram ativamente nas obras ou nas aquisições.
Além disso, o TLP gere um orçamento anual de quase 5 milhões de euros e, embora não existam estimativas sobre o impacto económico que o desdobramento de mais de 400 pessoas, seis vezes ao ano, pode significar para a economia local, certamente terá um efeito positivo para toda a província [de La Mancha]
Curso 2024-4 TLP (FC 2024-04)
Há que destacar como principais novidades deste curso de duas semanas, a participação pela primeira vez de aviões de 5ª geração italianos que se integraram plenamente no curso, desenvolvendo na totalidade as missões com plena eficácia. Durante a conferência de imprensa que teve lugar nos atos do Media Day, ou dia de imprensa, e que foi ministrada pelo Comandante do Programa de Liderança Tática (TLP), Coronel Cesar Oscar Acebes Puertas, falou-se das diretrizes estratégicas da organização, fundamentando-se em 5 pilares básicos: 1.- Integrar modernos aviões de combate aéreo, 2.- Promover o conceito ACE, 3.- Melhorar as capacidades LVC (Advanced Synthetic System), 4.- Integrar todo tipo de operações segundo o cenário e contexto atual e, por último, 5.- Abordar operações multidomínio onde a liderança e a interoperabilidade das nações são vitais para alcançar o sucesso.
Também se abordaram as novas tecnologias, como a implementação da Inteligência Artificial (IA) nos diferentes cursos que se realizam. Integrar novas tecnologias, inovar mais rapidamente no programa, avaliar alternativas para os elementos OPFOR (Operation Force) e melhorar as ferramentas que já existem no TLP são alguns dos objetivos que o novo Coronel (Chief Commander) estabeleceu para o seu mandato.Para o TLP é vital elaborar um plano de compromisso sólido onde se interaja com outros organismos, como o Allied Air Command (AIRCOM) da NATO ou inclusive com o Ejercito del Aire y del Espacio [espanhol], para poder adaptar as infraestruturas às novas necessidades operacionais do programa e continuar a ser um programa líder e de vanguarda europeu.
Jornada diária do TLP
Uma jornada diária do TLP começa às 10h00 com o briefing de meteorologia, cenário e missão que se vai realizar. Às 10h45 planeia-se a missão para poder iniciar as operações de voo às 15h00, missões de aproximadamente 1h 45min, com aterragens entre as 17h e as 18h. A partir de então, começa o Planning Debriefing e o Execution Debriefing, onde se visualizam detalhes das missões voadas e se tiram conclusões que são avaliadas em conjunto posteriormente para que todos possam aprender com os erros cometidos e melhorar. Não nos esqueçamos que o TLP é um programa líder e de excelência onde se certificam pilotos europeus pertencentes à NATO, com a finalidade de serem plenamente operacionais em missões reais. As jornadas terminam às 22h00, sendo as duas semanas que dura o curso, semanas de muita intensidade e de muito stress, nas quais os pilotos participantes no curso são submetidos a grandes cargas de trabalho.
No curso FC 2024-04 participaram as aeronaves seguintes:
Mirage 2000D(RMV) EC01.003 (645/3-XP)
Mirage 2000D EC02.003 (615/3-JY)
Mirage 2000D(RMV) EC02.003 (622/3-IL)
Mirage 2000D EC01.003 (649/3-XR)
Mirage 2000D(RMV) EC01.003 (686/3-JH)
EC725 Caracal EH01.065 (2802/SK)
EF2000 TLG73 (30+49)
EF2000 TLG31 (30+52)
EF2000 TLG73 (30+64)
EF2000 TLG73 (30+64)
EF2000 TLG31 (30+79)
EF2000 TLG31 (30+97)
EF2000 TLG31 (31+05)
EF2000 TLG31 (31+31)
EF2000 TLG31 (31+32)
EF2000 TLG31 (31+40)
EF2000 TLG31 (31+51)
EF2000 TLG31 (30+47)
EF2000 TLG31 (30+62)
EF2000 TLG31 (31+19)
EF2000 TLG31 (31+47)
Tornado IDS TLG33 (31+12)
Tornado IDS TLG33 (45+71)
Tornado IDS TLG33 (46+22)
Rafale EG 332 MPK (450)
Rafale EG 332 MPK (451)
Rafale EG 332 MPK (452)
Rafale EG 332 MPK (455)
F-35A 13° Gruppo (MM7373/32-19)
F-35A 13° Gruppo (MM7364/32-15)
F-2000A 51° Stormo (MM7308/51-08)
F-2000A51° Stormo (MM7299/51-99)
F-2000A 36° Stormo (MM7324/36-41)
F-2000A 36° Stormo (MM7331/36-47)
HH-101A21° Gruppo (MM81869/9-06)
HH-101ª AMI
C-550A 71° Gruppo (MM62329/14-13)
E-3C NATO (LX-N90443)
C-295M EdA (Slow Mover)
Typhoon FGR4 29sq (ZK311)
Typhoon FGR4 29sq (ZK319)
Typhoon FGR4 29sq (ZK321)
Typhoon FGR4 29sq (ZK325)
Typhoon FGR4 29sq (ZK329)
Typhoon T3 29sq (ZK382)
Typhoon FGR4 29sq (ZK424)
Typhoon FGR4 29sq (ZK431)
Atlas C1 RAF - A400M (ZM402)
Bombardier Learjet 36A (D-CGFF)
Bombardier Learjet 36A (D-CGFD)
Para 2025, esperam-se cinco cursos (Flying courses) com a participação de novas nacionalidades e a participação de novos integrantes de pleno direito, como Portugal, que já indicámos anteriormente que passará a fazer parte do programa a partir de 1 de janeiro de 2025, tendo subscrito esta mesma semana o acordo e o ato solene de integração no programa.
Agradecimentos: toda a organização do TLP (TLP Staff) pelas facilidades concedidas para a realização deste artigo.
Reportagem - texto e fotografias: Alejandro de Prado