Texto: Paulo Mata
Artigo publicado no jornal Take-Off de Dez.2012 e Combat Aircraft de Ago. 2013
Artigo publicado no jornal Take-Off de Dez.2012 e Combat Aircraft de Ago. 2013
A frota Alpha Jet da Força Aérea Portuguesa ultrapassou, a 19 de Setembro de 2012, as 50 mil horas de voo. O mesmo avião que completou essa marca notável (matrícula 15236), pilotado pelo Alf. Gonçalves (aluno) e pelo Ten. E. Fernandes (instrutor) foi alvo de pintura alusiva na deriva, apresentada em cerimónia levada a cabo na Base Aérea nº11, em Beja, onde se encontra sedeada a Esquadra 103 - Caracóis - actualmente a única a operar o modelo na Força Aérea.
Portugal recebeu um total de 50 Alpha Jet A da Alemanha, em 1993, como pagamento de parte do contrato de utilização da base de Beja, pela Luftwaffe, que terminaria nesse mesmo ano. Da frota inicial, apenas 40 unidades estavam definidas para voar, sendo as restantes 10 células para fornecer peças sobressalentes.
O Alpha Jet destinava-se, então, a substituir, na Esquadra 103, o T-33 Shooting Star, que durante quase quatro décadas efectuou a instrução avançada de pilotagem, até ser retirado, em 1991, e o T-38 Talon, que adquirido no final da década de 70 e início de 80 com vista à transição para os caças F-5, que nunca seriam comprados, foram sempre uma frota algo inadaptada às necessidades nacionais.
Nas funções de ataque ao solo, os Fiat G.91 da Esquadra 301- Jaguares, veteranos das guerras de África, chegavam também ao fim do seu ciclo na Força Aérea, sendo o Alpha Jet o seu substituto natural, tal como já havia sucedido na Alemanha.
O Alpha Jet destinava-se, então, a substituir, na Esquadra 103, o T-33 Shooting Star, que durante quase quatro décadas efectuou a instrução avançada de pilotagem, até ser retirado, em 1991, e o T-38 Talon, que adquirido no final da década de 70 e início de 80 com vista à transição para os caças F-5, que nunca seriam comprados, foram sempre uma frota algo inadaptada às necessidades nacionais.
Nas funções de ataque ao solo, os Fiat G.91 da Esquadra 301- Jaguares, veteranos das guerras de África, chegavam também ao fim do seu ciclo na Força Aérea, sendo o Alpha Jet o seu substituto natural, tal como já havia sucedido na Alemanha.
ESQUADRA 103
Ao passar a operar uma aeronave com capacidade para a utilização de armamento, os Caracóis (Esquadra 103) alteraram em conformidade o syllabus (plano curricular) do Curso de Instrução Complementar de Pilotagem, que passou a incluir a conversão operacional de pilotos. Foram por isso implementados cinco novos programas com a inclusão de tiro ar-solo, missões de defesa aérea e ataques ar-solo com encaminhamento. A Esquadra viu-se obrigada também a alterar o seu organigrama interno, para passar a incluir um Oficial de Operações, Secção de Informações, Guerra Electrónica e Secção de Tiro.
Os primeiros seis pilotos instrutores receberam instrução em Furstenfeldbruck, na Alemanha, decorria o ano de 1993, tendo a Esquadra ficado apta a desenvolver a missão ainda durante esse ano, com o primeiro curso em Alpha Jet a ter início em Novembro.
Desde então e durante os últimos 18 anos, o Alpha Jet formou várias gerações de pilotos para os quadros da Força Aérea.
Os primeiros seis pilotos instrutores receberam instrução em Furstenfeldbruck, na Alemanha, decorria o ano de 1993, tendo a Esquadra ficado apta a desenvolver a missão ainda durante esse ano, com o primeiro curso em Alpha Jet a ter início em Novembro.
Desde então e durante os últimos 18 anos, o Alpha Jet formou várias gerações de pilotos para os quadros da Força Aérea.
ESQUADRA 301
Tal como referido antes, os Alpha Jet herdaram as missões atribuídas ao Fiat G.91, que consistiam no Apoio Aéreo Próximo, Interdição do Campo de Batalha e Reconhecimento Aéreo Táctico. Através do equipamento de guerra electrónica amovível, transportado no espaço do cockpit, no lugar de trás do Alpha Jet, sempre que necessário, passaram também a desempenhar as referidas missões com capacidade de actuação nesse importante capítulo da guerra moderna.
No âmbito da integração da Esquadra 301 na "Augmentation Force" da NATO para a área do Mediterrâneo, os Jaguares participaram em múltiplos exercícios NATO, nomeadamente Dinamic Mix 97 (Itália), Strong Resolve 98 (Portugal), Dinamic Mix 98 (Turquia), Central Enterprise, e Plygonne (Alemanha), em 1999, Linked Seas (Portugal), Dinamic Mix (Grécia) e EOLO (Espanha), em 2000, Clean Hunter 2001 (Alemanha), sempre com elevados desempenhos e elogios das restantes forças participantes.
A Esquadra atingiria ainda a marca das 20.000 horas voadas em Alpha Jet, durante 2005, efectuando o último voo operacional a 20 de Novembro desse mesmo ano. Posteriormente passou a operar o F-16 MLU, a partir de Monte Real, deixando a Esquadra 103 com a totalidade dos Alpha Jet então operacionais.
Com o fim da utilização do Alpha Jet pelos Jaguares, a actividade de tiro foi bastante reduzida e os equipamentos de guerra electrónica e contra-medidas (chaff/flare) deixaram de ser utilizados pela frota.
No âmbito da integração da Esquadra 301 na "Augmentation Force" da NATO para a área do Mediterrâneo, os Jaguares participaram em múltiplos exercícios NATO, nomeadamente Dinamic Mix 97 (Itália), Strong Resolve 98 (Portugal), Dinamic Mix 98 (Turquia), Central Enterprise, e Plygonne (Alemanha), em 1999, Linked Seas (Portugal), Dinamic Mix (Grécia) e EOLO (Espanha), em 2000, Clean Hunter 2001 (Alemanha), sempre com elevados desempenhos e elogios das restantes forças participantes.
A Esquadra atingiria ainda a marca das 20.000 horas voadas em Alpha Jet, durante 2005, efectuando o último voo operacional a 20 de Novembro desse mesmo ano. Posteriormente passou a operar o F-16 MLU, a partir de Monte Real, deixando a Esquadra 103 com a totalidade dos Alpha Jet então operacionais.
Com o fim da utilização do Alpha Jet pelos Jaguares, a actividade de tiro foi bastante reduzida e os equipamentos de guerra electrónica e contra-medidas (chaff/flare) deixaram de ser utilizados pela frota.
MANUTENÇÃO
Tal como os primeiros pilotos, também os primeiros mecânicos receberam formação na Alemanha, para adaptação à nova aeronave.
O Alpha Jet A é uma aeronave construída na Alemanha e pensada de modo a ser sustentada pela indústria alemã, o que trouxe, desde logo, algumas dificuldades no que respeita a cadeias logísticas de fornecimento de peças para a manutenção das aeronaves.
Ao longo do tempo, algumas dessas dificuldades tiveram que ir sendo contornadas, quer devido aos atrasos no fornecimento de peças, quer pelo elevado preço de alguns componentes, fruto do monopólio que alguns fornecedores possuíam, por não haver mais fabricantes homologados.
Assim, o sistema de fragilização da canopy em caso de ejecção, foi substituído, tendo as próprias cadeiras ejectáveis passado a efectuar a revisão na BA11, para poderem continuar a operar em condições de segurança, por um lado, e a custos comportáveis, por outro.
Um banco de ensaios de motores foi também instalado em Beja, e posteriormente modernizado, prestando ainda hoje serviços, para além das aeronaves da Força Aérea, à empresa privada britânica QinetiQ, que utiliza também o Alpha Jet A.
Vários outros componentes, como o canhão, passaram também a ter as inspecções realizadas dentro da Força Aérea, poupando assim verbas e aumentando simultaneamente a capacidade e know-how dos técnicos próprios.
Novos equipamentos foram instalados no avião, nomeadamente o Radar Warning Receiver (aviso de detecção por radar) SPS 1000, o dispensador de chaff/flares ALE 40, o Sistema de Reconhecimento, a nova plataforma AHRS/INS KN-4071 (GPS) e o sistema de fumos da patrulha acrobática Asas de Portugal.
Uma vez que as aeronaves foram adquiridas já com considerável volume de horas de voo, grande parte delas necessitava de realizar o primeiro Depot Inspection (DI) a partir de 1995, tendo este sido efectuado durante os quatro anos seguintes, na OGMA. 15 aeronaves foram então abatidas ao efectivo, consideradas esgotadas, restando 25 em condições de voo, em 2000. Este número manter-se-ia estável durante os anos seguintes, iniciando-se, em 2006, o segundo ciclo de DI, sendo o número de aviões operacionais reduzido para 10, e posteriormente para as seis actualmente em operação, à medida que novas células atingiam os limites do ciclo de vida de componentes críticos para a operação da aeronave.
O Alpha Jet A é uma aeronave construída na Alemanha e pensada de modo a ser sustentada pela indústria alemã, o que trouxe, desde logo, algumas dificuldades no que respeita a cadeias logísticas de fornecimento de peças para a manutenção das aeronaves.
Ao longo do tempo, algumas dessas dificuldades tiveram que ir sendo contornadas, quer devido aos atrasos no fornecimento de peças, quer pelo elevado preço de alguns componentes, fruto do monopólio que alguns fornecedores possuíam, por não haver mais fabricantes homologados.
Assim, o sistema de fragilização da canopy em caso de ejecção, foi substituído, tendo as próprias cadeiras ejectáveis passado a efectuar a revisão na BA11, para poderem continuar a operar em condições de segurança, por um lado, e a custos comportáveis, por outro.
Um banco de ensaios de motores foi também instalado em Beja, e posteriormente modernizado, prestando ainda hoje serviços, para além das aeronaves da Força Aérea, à empresa privada britânica QinetiQ, que utiliza também o Alpha Jet A.
Vários outros componentes, como o canhão, passaram também a ter as inspecções realizadas dentro da Força Aérea, poupando assim verbas e aumentando simultaneamente a capacidade e know-how dos técnicos próprios.
Novos equipamentos foram instalados no avião, nomeadamente o Radar Warning Receiver (aviso de detecção por radar) SPS 1000, o dispensador de chaff/flares ALE 40, o Sistema de Reconhecimento, a nova plataforma AHRS/INS KN-4071 (GPS) e o sistema de fumos da patrulha acrobática Asas de Portugal.
Uma vez que as aeronaves foram adquiridas já com considerável volume de horas de voo, grande parte delas necessitava de realizar o primeiro Depot Inspection (DI) a partir de 1995, tendo este sido efectuado durante os quatro anos seguintes, na OGMA. 15 aeronaves foram então abatidas ao efectivo, consideradas esgotadas, restando 25 em condições de voo, em 2000. Este número manter-se-ia estável durante os anos seguintes, iniciando-se, em 2006, o segundo ciclo de DI, sendo o número de aviões operacionais reduzido para 10, e posteriormente para as seis actualmente em operação, à medida que novas células atingiam os limites do ciclo de vida de componentes críticos para a operação da aeronave.
AS PATRULHAS ACROBÁTICAS
Após desactivação da patrulha Asas de Portugal e da Esquadra 102 que utilizava o Cessna T-37, em 1991, devido aos problemas nas aeronaves que levariam à desactivação da frota nesse mesmo ano, a patrulha ressurge em 1997, através da Esquadra 103, com seis Alpha Jet.
As demonstrações neste formato limitar-se-iam, no entanto, a duas exibições em território nacional, com os aviões no esquema camuflado adoptado pelas aeronaves portuguesas.
Já em 2001, e para as comemorações do cinquentenário da Força Aérea, a realizar no ano seguinte, nasceu uma parelha de exibição, então denominada "Parelha da Cruz de Cristo", que desde logo impressionou tanto público como profissionais, ficando a intenção de recuperar a tradição da acrobacia aérea na Força Aérea, para exibições mais regulares. Oficialmente reactivada a 1 de Julho de 2004, a parelha de exibição retornaria às demonstrações públicas de novo como "Asas de Portugal", já em 2005, ganhando também os aviões novas cores, através de patrocínio de entidade bancária privada.
A parelha manteve-se neste figurino até 2009, tendo a última temporada, em 2010, sido realizada apenas com uma aeronave a solo.
Desde então, e devido às condições económicas do país, não há para já, e infelizmente, perspetivas de regresso às exibições acrobáticas em Alpha Jet.
As demonstrações neste formato limitar-se-iam, no entanto, a duas exibições em território nacional, com os aviões no esquema camuflado adoptado pelas aeronaves portuguesas.
Já em 2001, e para as comemorações do cinquentenário da Força Aérea, a realizar no ano seguinte, nasceu uma parelha de exibição, então denominada "Parelha da Cruz de Cristo", que desde logo impressionou tanto público como profissionais, ficando a intenção de recuperar a tradição da acrobacia aérea na Força Aérea, para exibições mais regulares. Oficialmente reactivada a 1 de Julho de 2004, a parelha de exibição retornaria às demonstrações públicas de novo como "Asas de Portugal", já em 2005, ganhando também os aviões novas cores, através de patrocínio de entidade bancária privada.
A parelha manteve-se neste figurino até 2009, tendo a última temporada, em 2010, sido realizada apenas com uma aeronave a solo.
Desde então, e devido às condições económicas do país, não há para já, e infelizmente, perspetivas de regresso às exibições acrobáticas em Alpha Jet.
OS TIGER MEET
Durante o período em que o Alpha Jet foi operado pela Esquadra 301, por duas vezes esta recebeu o conhecido exercício internacional Tiger Meet, que reúne numerosas esquadras de voo cujo símbolo é um felino, tal como é o caso dos Jaguares.
Assim, em 1996 e 2002, Beja acolheu um sem-número de aeronaves apropriadamente decoradas com motivos felinos, fazendo jus ao "espírito tiger", uma das modalidades em avaliação no evento.
Os exercícios Tiger Meet tiveram início em 1961, com o objectivo de trocar experiências entre esquadras de diferentes forças aéreas, aumentar o espírito de camaradagem e a solidariedade entre países NATO. Durante a sua realização voam em conjunto diversas aeronaves diferentes, com distintas capacidades, num cenário de conflito idealizado para o efeito, em ambientes estranhos para as esquadras envolvidas, o que em muito contribui para o entrosamento das forças envolvidas, bem como para o aumento do estado de prontidão e da capacidade de dissuasão da NATO.
A organização do Tiger Meet implica um esforço e capacidade de organização acrescidos, já que a Esquadra anfitriã deverá acumular a participação nas missões militares propriamente ditas, com a organização logística e social do evento.
Assim, em 1996 e 2002, Beja acolheu um sem-número de aeronaves apropriadamente decoradas com motivos felinos, fazendo jus ao "espírito tiger", uma das modalidades em avaliação no evento.
Os exercícios Tiger Meet tiveram início em 1961, com o objectivo de trocar experiências entre esquadras de diferentes forças aéreas, aumentar o espírito de camaradagem e a solidariedade entre países NATO. Durante a sua realização voam em conjunto diversas aeronaves diferentes, com distintas capacidades, num cenário de conflito idealizado para o efeito, em ambientes estranhos para as esquadras envolvidas, o que em muito contribui para o entrosamento das forças envolvidas, bem como para o aumento do estado de prontidão e da capacidade de dissuasão da NATO.
A organização do Tiger Meet implica um esforço e capacidade de organização acrescidos, já que a Esquadra anfitriã deverá acumular a participação nas missões militares propriamente ditas, com a organização logística e social do evento.
Ten Cor Eugénio Rocha no discurso da cerimónia de comemoração das 50.000 horas da frota Alpha Jet lusitana |
O FUTURO
A frota Alpha Jet e a Esquadra 103 contam actualmente com seis unidades operacionais para o desempenho das missões que lhe estão atribuídas, capazes de voar até 2018, caso não haja qualquer tipo de investimento adicional nas aeronaves. Existe ainda um número considerável de células inibidas, que poderão ser modernizadas e recolocadas a voar até uma taxa de esforço de 150%, mediante as necessárias revisões e intervenções, caso seja essa a opção a tomar.
Entretanto, está ainda em cima da mesa de negociação, a possibilidade da Coreia do Sul instalar em Beja um centro de treino equipado com aeronaves T-50 Golden Eagle de fabrico próprio, o que incluirá, como contra-partidas para Portugal, a utilização das mesmas aeronaves por instrutores e pilotos nacionais, e ditará, consequentemente, um final antecipado às operações do Alpha Jet com a Cruz de Cristo.
Para já, no entanto, e nas 50.000 horas voadas pelo Alpha Jet com as cores portuguesas, este revelou-se uma aeronave segura, fiável e perfeitamente capaz de cumprir as missões que lhe foram atribuídas. A marca, agora celebrada, é, além disso, o espelho da dedicação de todos quantos nele trabalharam e voaram.
Porque 50.000 horas não se cumprem sem vencer muitas batalhas!
Entretanto, está ainda em cima da mesa de negociação, a possibilidade da Coreia do Sul instalar em Beja um centro de treino equipado com aeronaves T-50 Golden Eagle de fabrico próprio, o que incluirá, como contra-partidas para Portugal, a utilização das mesmas aeronaves por instrutores e pilotos nacionais, e ditará, consequentemente, um final antecipado às operações do Alpha Jet com a Cruz de Cristo.
Para já, no entanto, e nas 50.000 horas voadas pelo Alpha Jet com as cores portuguesas, este revelou-se uma aeronave segura, fiável e perfeitamente capaz de cumprir as missões que lhe foram atribuídas. A marca, agora celebrada, é, além disso, o espelho da dedicação de todos quantos nele trabalharam e voaram.
Porque 50.000 horas não se cumprem sem vencer muitas batalhas!
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