Texto: Valter Andrade
Atualmente a aeronave C-95 Bandeirante é ainda a espinha dorsal da Força Aérea Brasileira (FAB).
Bandeirantes é a denominação dada aos sertanistas do período colonial brasileiro, que, a partir do início do século XVI, penetraram no interior do Brasil em busca de riquezas minerais, sobretudo o ouro e a prata, abundantes na América espanhola. A maioria dos bandeirantes eram descendentes de primeira e segunda geração de portugueses em São Paulo, sendo os capitães das bandeiras de origens europeias variadas, havendo não só descendentes de portugueses, mas também de galegos, castelhanos e cristãos novos. Contribuíram, em grande parte, para a expansão territorial do Brasil além dos limites impostos pelo Tratado de Tordesilhas, ocupando o Centro Oeste e o Sul do Brasil. Também foram os descobridores do ouro no estado de Minas Gerais, Goiás e Mato Grosso. Este nome foi escolhido para ser o da primeira aeronave fabricada pela Embraer.
No final da década de 1960, o governo brasileiro iniciou uma política de expansão da indústria do país, havendo na época a necessidade de se obter um avião de propósito geral, tanto para uso civil como militar, para ser utilizado no transporte de cargas e passageiros. Foram promovidos estudos para a criação de uma nova aeronave, que fosse de baixo custo operacional, capaz de ligar regiões remotas e dotadas com pouca infraestrutura.
Coube a uma equipa do Centro Técnico Aeroespacial (CTA), liderada inicialmente pelo projetista francês Max Holste, com a supervisão do engenheiro aeronáutico Ozires Silva, a missão de desenvolver a aeronave. O projeto, foi designado IPD-6504, teve início em 1965 e foi desenvolvido durante três anos, até o primeiro voo, em 22 de outubro de 1968. A Embraer ainda não havia sido criada, o que só aconteceria no ano seguinte, em 19 de agosto de 1969, tendo como primeiro presidente, Ozires Silva.
Nas versões militares o C-95 Bandeirante é utilizado para transporte de passageiros, carga, busca e salvamento, reconhecimento fotográfico e patrulha marítima. Este último, o Bandeirante Patrulha, é apelidado como, Bandeirulha.
C-95A Bandeirante ainda no padrão de camuflagem antigo da FAB |
Em maio de 1971, foi iniciada a produção em série do avião, com a primeira entrega em 9 de fevereiro de 1973, para a Força Aérea Brasileira, que encomendou 80 unidades, tendo a aeronave sido vendida para diversos outros países. Num total de 498 aviões fabricados, 253 aeronaves para o mercado brasileiro e 245 foram para o exterior, incluindo seis forças armadas: Angola, Chile, Colômbia, Cabo Verde, Gabão e Uruguai.
A produção em série do Bandeirante terminou no final de 1991, mas passados 30 anos o modelo continua a voar, tanto em atividades civis como militares.
O 1°/5° GAV O ESQUADRÃO RUMBA
A Ala10 está situada no município de Parnamirim ao lado da cidade de Natal no estado do Rio Grande do Norte do Brasil e é o mais importante centro de formação dos aviadores da Força Aérea Brasileira, além de ser palco da mais importante manobra aérea da América do Sul, as operações CRUZEX.
Hoje a Ala 10 detém um papel vital para a formação de pilotos. Após os quatro anos na Academia da Força Aérea na cidade paulista de Pirassununga, os jovens aspirantes aviadores seguem para o 1°/5°GAV.
Na Ala10 estão baseados os esquadrões; 2º/5º GAV (Joker) de instrução de caça, equipado com as aeronaves A-29 Super Tucano; o Esquadrão 1º/11º GAV (Gavião) de instrução em asas rotativas, equipado com o helicóptero UH-50 Esquilo; e o esquadrão 1°/5° GAV (Rumba) com os C-95 Bandeirante.
O 1°/5° GAV o Esquadrão Rumba, merece especial destaque, pois tem a missão fundamental de formar todos pilotos da aviação de Transporte, Inteligência, Vigilância e Reconhecimento na Força Aérea Brasileira.
O esquadrão teve a sua origem diretamente ligada à criação do Quinto Grupo de Aviação (5º GAV), quando era responsável pela formação de pilotos de bombardeio com as aeronaves North American B-25 Mitchell. O 1º/5º Grupo de Aviação foi ativado em 24 de abril de 1947 na Base Aérea de Natal, inicialmente utilizando aviões B-25 Mitchell para a instrução das tripulações de bombardeamento, realizando missões de treino, destacando-se as de bombardeamento rasante, picado e horizontal, e voo em formação. Após dez anos de serviço, em 1957, os B-25 foram substituídos pelos B-26 Invader. Com estas aeronaves em 1964, o esquadrão recebeu o troféu “Segurança de Voo” da USAF, por ter completado 6.000 horas de voo sem acidentes.
A origem do nome Rumba reporta-se a 1950, quando foi realizado pelo 1º/5º GAV uma grande manobra que incluía missões de patrulha marítima com a participação da Marinha do Brasil com duas corvetas, que mantinham contacto permanente via rádio com as aeronaves do esquadrão. Para isso, foram adotados códigos de chamadas: a torre de controlo de Natal era chamada de "Flauta", enquanto as aeronaves do 1º/5º GAV eram chamadas “Rumba”, seguido do número do piloto em comando. Dado o entusiasmo gerado pelo sucesso das missões, o 1°/5° GAV passou a ser conhecido como Esquadrão Rumba.
Ao Primeiro Esquadrão do Quinto Grupo de Aviação compete ministrar aos pilotos estagiários diversos cursos. Operando com aeronaves C-95AM/BM Bandeirante o 1º/5º GAV, anualmente ministra o Curso de Especialização Operacional (CEO) a uma parcela de oficiais aviadores formados na Academia da Força Aérea (AFA). O curso consiste em duas fases: básica e avançada. Na primeira, os estagiários do CEO aprendem a operar a aeronave C-95 Bandeirante, realizando missões de adaptação diurna e noturna, voo por instrumentos, navegação e voo de formação.
Toda a instrução aérea é ministrada no esquadrão e é dividida em duas fases: Fase Básica e Fase Avançada.
Na Fase Básica, os estagiários terão o primeiro contacto com a aeronave, onde aprenderão a operar nas diversas missões: adaptação diurna e noturna, voo por instrumentos e viagens de navegação, quando terão a oportunidade de aterrar em diferentes aeroportos. Visando, também, o emprego militar da aeronave, realizarão missões de voo em formação.
Na fase avançada, os estagiários realizam missões de treino específicas das aviações nos cursos de Inteligência, Vigilância e Reconhecimento (CEO-IVR), e no Transporte (CEO-TR), recebem instrução teórica da respetiva aviação, com os instrutores do esquadrão que são oriundos da aviação especializados.
No final estão capacitados para compor tripulações operacionais nos diversos esquadrões da Força Aérea Brasileira.
Pelos corredores do Esquadrão é constante a movimentação dos jovens aspirantes no frenético ir e vir entre voos, constantemente sendo avaliados pelos instrutores, que os acompanham em todas as etapas de seu intenso período no 1°/5°GAV.
OS C-95 BANDEIRANTE MODERNIZADOS
No final de 2012, o esquadrão recebeu os primeiros C-95M Bandeirante modernizados, trazendo um novo conceito de aviação e instrumentos mais avançados de navegação aérea.
A chegada do Bandeirante modernizado, representou uma transição para o Esquadrão, que passou a fazer parte da nova geração da aviação, passando a utilizar equipamentos de ponta de modo a operar com maior versatilidade e eficiência. A aviónica Glass Cockpit, implementou avanços significativos, principalmente no que diz respeito à confiabilidade das informações dos instrumentos.
O glass cockpit do C-95M |
Dotado de sistemas Garmin, o C-95A/BM Bandeirante utilizam quatro ecrãs MFD’s (Multifunction Displays) que aumentam consideravelmente a consciência situacional dos pilotos, e consequentemente proporcionam maior segurança de voo.
Os ganhos são crescentes na formação dos jovens aspirantes, e o conceito de IVR trazido dos EUA tem provocado muitas melhoras significativas.
O dia 3 de novembro de 2020 entrou para a história do 1°/5° GAV, pois o esquadrão Rumba completou 100 mil horas de voo com o Embraer C-95 Bandeirante. A marca histórica foi alcançada num voo em formação durante uma missão do CPI (Curso de Padronização de Instrutores). O voo do "Rumba Verde" foi composto pelos C-95BM Bandeirante 2318 (líder), 2312 (2) e 2317 (3) teve a duração de pouco mais de uma hora.
O Esquadrão dispõe de trinta e cinco instrutores com grande experiência, todos oriundos de unidades operacionais.
Simulador C-95M Bandeirante |
Um simulador do C-95M Bandeirante pertencente ao Grupo Logístico da Ala 10 em Natal é empregado nas mais diversas instruções.
Desde de sua criação o 1°/5°GAV já formou:
Estagiários formados de 1947 a 2001
• 2230 estagiários
Estagiários formados de 2002 a 2020
• 1131 estagiários
• Total: 3361 estagiários
Os Aviões do 1°/5° GAV
C-95AM Bandeirante C-95BM Bandeirante
FAB 2285 FAB 2312
FAB 2291 FAB 2313
FAB 2296 FAB 2317
FAB 2299 FAB 2318
FAB 2323
FAB 2347
Embraer EMB110 Bandeirante
Fabricante Embraer (Brasil)
Período de produção 1973–1991
Quantidade produzida 498 (253 aeronaves para o Brasil militares e civis e 245 aeronaves vendidas para o exterior das versões militares e civis)
Primeiro voo em 22 de outubro de 1968
Introduzido em 9 de fevereiro de 1973
Variantes (19)
Tripulação 2 ou 3
Passageiros 15/21
DIMENSÕES
Comprimento 15,08 m (49,5 ft)
Envergadura 15,32 m (50,3 ft)
Altura 4,73 m (15,5 ft)
Área das asas 29 m² (312 ft²)
PESO (S)
Peso máx. de decolagem 5 670 kg (12 500 lb)
PROPULSÃO
Motor (es) 2 x turbohélices Pratt&Whitney PT6A-34
PERFORMANCE
Velocidade máxima 426 km/h
Alcance (MTOW) 1 900 km (1 180 mi)
Teto máximo 8 260 m (27 100 ft)
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